segunda-feira, maio 30, 2011

Biólogos crentes? Ou carentes?

De longe, ele já havia chamado a minha atenção. Baixinho. Magrinho. Cabelos lisos, quase todos brancos. Roupas clássicas e cores escuras. Bem comportadas. Boca pequena, sempre sorrindo. Olhos rasgados de oriental. Uma simpática figura, lembrando muito um estranho cientista, desses tão comuns nos filmes de Spilberg. - "Por favor, eu posso fazer uma pergunta à você?"

A pergunta era mesmo pra mim. Parei a corrida, um tanto contrariada.

"Tudo bem!" - respondi, pensando tratar-se de algo relativo a localização de uma rua. "- Qual a sua religião?"

"Não tenho!"

"Mas é bom ter fé..."

"É. Eu tenho a minha."

"Mas, por que você...

"Xi, já passei desta fase. Até logo" - disse apressada, pra acabar com o assunto.

O japona levantando a voz e num tom de orgulho explícito disse: "vá com deus!"

O resto da corrida, fui matutando sobre as contradições de opiniões e crenças. Por exemplo, ciência e religião. Cara de cientista, missão de pregador! Quem poderia imaginar! De cara, me lembrei de uma entrevista que fiz com um conceituado biólogo americano, craque em biologia evolutiva. Futuyama ( é uma vergonha, mas esqueci do primeiro nome agora e apesar do sobrenome, não tem a coincidência oriental ) . Para ele, é possível aceitar a total evolução do mundo e ao mesmo tempo preservar crenças religiosas.


O ponto central da entrevista era sobre o ensino da biologia nas escolas. Como deve ser encarada a teoria da evolução, uma verdade absoluta para a ciência, se há tantos professores religiosos da matéria? Como alguém pode ensinar ciências sem acreditar na teoria de Darwin? Na ocasião, eu havia citado um fato, acontecido numa discussão de mesa de bar, certa vez, com um amigo meu, estudante de biologia, já no terceiro ano, que tinha declarado entender a teoria como verdade científica, mas não gostava de falar muito sobre o assunto.


Segundo Futuyama, a saída politicamente correta e menos angustiante em favor dos profissionais religiosos e do ensino das ciências é fugir da dualidade. Pra ele, se houver uma imposição entre crença e ciência, as pessoas vão optar pela primeira, devido a satisfação emocional. Ou seja, cá pra nós, o popular, me engana que eu gosto.


Então, se for pra ver as pessoas felizes, como parecia o japa simpático, fiquem com deus e não se fala mais nisso!

3 comentários:

André Luiz Fischer disse...

Gostei do modo como foi abordade a matéria, Sheila! Parabéns! Sou biólogo há mais de 15 anos e sei deste tipo de dificuldade que acontecem com estudantes de Biologia. O texto é bem esclarecedor. Um abraço!

Lúcia Costa Franquini disse...

O final está impecável. Adorei a sutileza... Ah, é muito bom ver você de volta!

Marília Santos disse...

O texto mostra bem como a hipo0crisia interfere na ciência. A fé é cega. E nós preferimos optar pela cegueira do que enfrentar a realidade. Abraços.