sábado, outubro 14, 2006

Verdade e fundamento...

Não como ostras, pelo simples motivo: não gosto. Nada de pseudo explicações. Não gosto e pronto. Mas...como gostaria de comer ostras. Pelo simples motivo: o ritual que isto exige. Chega a ser um pouco parecido com o caranguejo. O que diferencia é que pra saborear o bichinho cabeludo-horroroso-danado de bom - só depende das nossas mãos. A ostra, é necessário alguém pra abrir, temperar ( com limãozinho, pimenta, curry e outro escambau de gosto) e, de preferência, bom de papo. Pelo menos, é assim, aqui na beira da Praia do Futuro. O "cabra" demora quase uma hora, pra preparar uma porção ( dez a doze ostras) e com o maior sazon. Chega, senta no banquinho que carrega, põe a toalhinha( parece limpinha) no lado e dê-lhe prosa. Vale tudo, dependendo do freguês. Hoje, o personagem era um cearense, casualmente, bem informado. "Pois é macho, será que a culpa da queda do avião da Gol foi mesmo da torre de Brasília ?"- começou o comedor de ostras. Notícia fresquinha. A suposição saiu hoje, na net, envolvendo quatro operadores, que teriam esquecido de comunicar a mudança de rota para o boeing. "Ah, que nada, é que já querem livrar os gringos da culpa", respondeu o vendedor.
Pode ser, pensei. Mas... se for assim, como ficam as vidas dos dois pilotos americanos do jatinho, já crucificados pela mídia? Nós, "cachaceiros" da profissão de jornalistas, já vimos o filme. Façamos a retrospectiva na mesma tecla. Na pressa, na ânsia da manchete, que nos dá notoriedade e dinheiro, atropelamos a ética. Acreditamos que após integrar as elites de vários setores da sociedade - o político, das artes, do esporte, da polícia, da alta " society" e até da malandragem - ganhamos "bagagem" e poder pra condenar ou enaltecer. Às vezes, ainda que inconscientes, pressionados por empresários, também da comunicação, que passam pelo mesmo processo. Sejam grandes ou pequenos, não há como diferenciar escrúpulos e interesses. Uns por vício, outros pela sobrevivência. Nem tão raros como a gente imagina. A convivência com mundos, que não são nossos, seja que lado for, o refinado e o bruto, a alegria e a tristeza, altera a nossa visão. E somos obrigados a ver, pra repassar pro mundo.
Temos o poder da denúncia pública. Qualquer texto incriminando alguém ou insituição, vira manchete. Vende muito. Não importa se verdadeira ou não. E deixa cicatriz profunda. Mesmo que desmentida, posteriormente, ficará a dúvida. Com o tempo, ninguém se lembrará da retração e bastará citar o nome de algum envolvido, que a pergunta será inevitável: "ah, este foi aquele que estava na manchete..." "Este" ficará como refém da história. É preciso nunca nos esquecermos disso, ao terminar uma matéria.