segunda-feira, agosto 11, 2008

Andres no país das maravilhas


Há mais de três anos, Andres Martin Santesteban, um espanhol bonitão, morador de Madri, dois filhos pequenos, 31 anos, recém divorciado após um casório de 10 anos, planejava passar suas férias desfilando seu corpaço, bem distribuído dentro do limite de um metro e 84 de altura, pelas praias do Nordeste.

Em 2006, passou quase o mês inteiro de agosto inativo, devido à uma operação de apendicite. Em 2007, a grana tava curta. Neste ano, juntou o dobro dos sete mil dólares, que pretendia trazer pra gastar no país. Se mandou, no início do mês. Lépido e faceiro. Coração livre, pronto à paixões e sonhos.

Hoje, bem cedinho, foi encontrado por surfistas e copistas, despido de suas roupas de grife, deitado na areia da praia, totalmente grogue.

"O gringo foi mais uma vítima do Boa Noite, Cinderela," disse um senhor aposentado, conhecido frequentador madrugador da área. Foi ele quem providenciou uma saída de banho para o espanhol.

O golpe é mais velho do que a história do chapeuzinho vermelho. Sujeito a gregos e troianos. A netinha inocente, que pode ser um muuuulherão ou uma menina com cara de adolescente, seduz seu enamorado em um bar ou uma boate, faz um monte de perguntas e, num momento de distração do coitado, coloca sedativos em sua bebida. Arrasta o dito a um lugar mais calmo e o depena como a um frango na mesa de esfomeados...

Segundo o espanhol, ele estava sentado na mesa de uma barraca GLS, quando surgiu uma paquera. Um homem. Mais ou menos com sua idade. Ele mandou um torpedo pelo garçon, convidando o malandro pra sentar. "Después no lo recuerdo más..." - explicou a um conterrâneo, que passeava pela praia.

Levado ao hotel de luxo em que estava hospedado, na beira mar, Andres ficou dois dias encerrado no apartamento, conforme o gerente.

"A pessoa que passa por este trauma, não lamenta apenas a perda de coisas materiais. Sofre um imenso sentimento de desilusão, medo e vergonha. Não consegue esquecer o perverso jogo de sedução. O que poderia ser uma noite de sonhos, vira roteiro de golpe ", me disse, certa vez, um amigo, que passou por algo semelhante.

Andres preferiu não fazer o registro na polícia. Pagou a conta. Antecipou a reserva da passagem de volta. Aliviado por não ter representado mais um número na triste estatística de mortos pela violência brasileira.

Andres acordou. Nunca mais vai dormir no país das maravilhas.