quarta-feira, março 25, 2009

A praia torta da Adriana

O vinho branco seco, procurado insistentemente na tarde chuvosa desta quarta virou meio seco. A única opção da barraca.

Até fazer o garçom entender que seco é diferente de meio, foi dificil. Mas, após umas seis idas e vindas dele entre mesa e cozinha, com garrafas na mão, foi o jeito. Fazer o quê, depois da incansável procura nas diversas barracas da praia?

Faz parte do atendimento local. Preço alto no cardápio. Salário baixo dos funcionários. Mentalidade amadora dos empresários.

A constatação brochante de Adriana, como uma pergunta que não queria calar, veio após quatro meses em Fortaleza.

Como quem deixa tudo por amor, Adriana, socióloga de sucesso em Sampa, depois de duas férias e uma paixão fulminante por Fortal, se mandou de malas e cuias pra cá.

Loooooouuuuuuucura, dizia sua network paulista. Um monte de conhecidos que conseguiu fisgar na vida, em função de sua simpatia e competência. " Loucura é ficar nesta cidade fria e violenta, respondia na ponta da língua! Tchau. Fui! Tô me mandando pro paraíso!"

Adriana tinha vários amigos na cidade do sol, como Fortaleza é conhecida entre os turistas. Conquistados em função das inúmeras festas e badalações que lhes eram oferecidas, a cada verão. A conhecida hospitalidade cearense. Dos anúncios e matérias de jornais.

Se bem, que no último reveillon, no badalado e caro Beach Park, a emoção foi digna de um Salvador Dali. Em transe! Comida fria. Cerveja quente. Até o gelo tinha acabado! Isto há uma da manhã do primeiro dia do ano! O local da festa surrealista estava demarcado com uma cerca, feita de madeira usada, muito mal tapada e que impedia a visão do mar!

Os fogos da meia noite eram uma gravação...

Tá...Nem todo o amor é perfeito, pensou. Vamos focar nas coisas boas! Que clima maravilhoso! Se chove, logo vem o sol...

Chiiiii, tá certo que agora tá durando mais de uma semana, porque o inverno chegou mais cedo...É atípico, dizem os cearenses e agregados. Bom pra agricultura...

A umidade tá forte, mas não vai durar muito. Quando passar, termina a virose. Mas tem o mar límpido...

Ultimamente ele tá um pouco marrom, devido a invasão das algas. Isto ocorreu só neste ano, dizem... É algo raro...

Pensando bem, em que lugar você senta pra tomar um vinho olhando as ondas bem de pertinho, sabendo que em cinco minutos estará no trabalho?

Tá certo que o engarrafamento já começou a irritar os bem humorados nativos e inativos. A cidade inchou. Aumentou a disputa pelo centímetro quadrado...

Ah, pra que carro, pra quem mora perto! Que bom poder caminhar sentindo a brisa do mar!

Quer dizer... menos Adriana! - constatou.

Ela sabe que é muito difícil caminhar pelas ruas da cidade que escolheu pra morar. Buracos. Sujeira. Muriçócas e aedes em festival! Mau cheiro!

Pô, muda pro calçadão! É só não andar com bolsa e você fica livre do arrastão! - falou baixinho, como consolo.

"Ihhhhhhhhh, acho que tá na hora de levantar acampamento. Garçom, mais um vinho, por favor!"

"Perdão, moça só tínhamos esta garrafa. É que na baixa temporada a gente não faz pedido. Mas tem outro parecido..."