quinta-feira, agosto 20, 2009

O lixo ético e o banal respeito humano

O dia desta quarta-feira amanheceu a cara do inverno paulista. Frio e nublado. Mas Rodrigo nem ligou. A sua frente, só via sol. Era o primeiro dias das férias, de 20 dias. Depois de dois anos de intenso trabalho, era a primeira vez que ele conseguia conciliar nos dois empregos um período livre.

Nada de barulho de carro, sirenes, trânsito engarrafado, gente apressada, averiguações de furtos, computadores paralisados, atendimento pra ontem. A ordem era se mandar! Longe desta zona de conflito estressante em que atuava diariamente como vigia de um shopping no morumbi e técnico de informática à noite.

"Tá bom! Vamos com calma", pensou Rodrigo ao se sentir estranho, depois de acordar, tomar banho e vestir jeans e camisetas pra sair de casa. Ainda viu , no Bom Dia Brasil, a Comissão de Ética do Senado arquivar todas as denúncias contra Sarney. Fez questão de se olhar no espelho, pra ficar convencido de que finalmente se livrara do sizudo terno azul-marinho.

Reuniu a mulher, a sogra e seu filho pequeno. O destino ? Uma fazenda qualquer, na estrada entre São Paulo e Rio. Antes, uma passada no supermercado Carrefour. Pouca coisa pra comprar. Biscoitinho, água mineral, refrigerante. Parou na entrada, deixou a família e foi estacionar.

Já na vaga, Rodrigo de repente ouve um estrondo! Um barulho de moto caindo no chão, ao lado do carro. Ele corre pra ajudar, mas o piloto não quer saber de solidariedade. Foge apressado. O alarme de seu carro dispara. Seguranças. Pessoas. O cerco se fecha. "Prende o ladrão! Grita um homem transtornado. Recebe um pontapé na perna, de outro mais exaltado.

"Gente, esse carro é meu..." tenta explicar. Apavorado. "Imagina, dele nada, chega de impunidade!" Acusa uma jovem, com um carrinho de compras. Rodrigo é colocado em um carro da segurança do supermercado, e empurrado para uma salinha. Com cinco trogloditas. Lá é ironizado. Humilhado. E apanha. Um. Dois. Três socos. "Cala a boca, negão, dono de um eco-esporte, é... goza um deles. Conheço este tipo. Deve ter várias passagens na polícia...

Mais calmo, um "agente da lei" decide averiguar os documentos que ficaram no carro. Encontra a família esperando Rodrigo. Os seguranças analisam os documentos. Um deles, pede desculpas. E vão todos embora.

Assim. Tão banal. Como se tudo não passasse de apenas um engano...