segunda-feira, outubro 29, 2007

A rendição ao bispo

Sei que é difícil para um jornalista ser isento. Apesar de aprendermos, desde pequeninho, ainda nos coeiros da faculdade, que nosso trabalho é apenas o de informar, ouvindo ( e passando) por todos os lados de um fato, sem tomar partido, tem horas que isto se torna impossível, pôxa!

Como não se indignar diante de um crime? Como não se revoltar ao entrevistar um advogado que defende um assassino bárbaro e ainda faz ironia com perguntas sobre justiça?... Apesar de já estarmos cansados de cobrir matérias sobre crime...Como não chorar diante de uma criança com fome, ainda que a gente esteja fazendo uma matéria ao vivo? ... Apesar das inúmeras reportagens sobre a seca... Como não embargar a voz diante da descrição de uma vitória do Brasil na Copa do Mundo? Mesmo com tantas copas... Como não se envergonhar ao relatar a descoberta de mais uma ação fraudulenta de um político, quem sabe, uma fonte sua e do qual você até poria a mão no fogo para defendê-lo...

Só os próprios jornalistas sabem como é difícil demonstrar frieza, mesmo após anos de experiência na profissão. Felizmente, ainda não aprendemos a agir como máquinas, apesar da atuação de algumas empresas jornalísticas, na execução primária de determinados projetos de recursos humanos, acreditando "moldar"como marionetes, as cabeças de repórteres novatos, tornando-os profissionais egoístas e prepotentes na busca de um furo. Já existe isso. Jornalistas que desrespeitam as regras da boa convivência, porque tem que cumprir metas - como fazem os vendedores de algum produto ou serviço - sendo analisados semanalmente, durante reunião de editores e sendo diferenciados com notas de 01 a 10. Alunos inseguros, em rígidos colégios.

Como em todas as profissões, há jornalistas do bem e do mal. Como em todas as psiquês, há o bom e o mau caráter. E, como em toda a cultura, há a visão em diversos ângulos. No Irã e países muçulmanos, por exemplo, o jornalista que ousar escrever ou falar algo positivo sobre algum aspecto do sistema democrático, tá fudido. Não só é demitido, como condenado à forca... E por aí vai. E o pior que são felizes assim. Defendendo e propagando ideais extremistas, como autômotos, incapazes de parar pra pensar e contestar. Meros repassadores do sistema, comandado por poderosos.

Neste aspecto, todas as culturas se equivalem. No oriente. No ocidente. Nos pólos. Nas editorias. Nos contra-cheques. Nas piadas. "Quem tem poder manda, quem tem juízo obedece." Ou," não fale. Um dia você ainda vai cair nessa... Lembre-se que o mercado é estreito. E o campo seco."

Foi isto que pensei ao ler, há pouco, duas notinhas, em colunas de fofocas: a demissão de repórteres veteranos da Globo e TVE e o lançamento da biografia do dono da igreja universal e da rede Record. Jornalistas conhecidos por criticarem esquemas de corrupção, colegas de copo e papo, que me emocionavam pela defesa intransigente da liberdade de bem informar, imunes à qualquer tipo de aliciamento, beijando a mão do bispo. Digo, pedindo autógrafo ao chefe.

Perfume de mulher


Se a lua de mel com a população será curta. Se ela tem gênio autoritário. Se ela não tem preparo algum para enfrentar a crise enérgica que promete invadir a Argentina nos próximos anos. Se as roupas que usa são somente de grife, apesar de ativista nos tempos de universidade. Se o seu marido vai continuar o mesmo, até o fim do mandato... Não interessa. O importante é que Cristina Kirchner, a nova presidente da Argentina deu mais um grande salto para aproximar o exíguo mundo feminino da política.


E um salto histórico, já que representa a primeira mulher eleita pelo povo a ocupar o cargo naquele país. Mesmo após ter passado vários anos de liderança da carismática Eva Perón, ainda tão presente nos corações argentinos. Evita sempre fez questão de ficar à sombra do marido Juan, apesar de líder latente. Os tempos eram outros. Época da intolerância machista, da obrigação histórico-cultural de se mostrar mãe de nossos homens, da velha e conhecida frase " sempre por trás de um grande homem, existe uma...

Parece que a escrita começa a ser diferente. Cristina superou em dobro, os votos dados à seu companheiro, nas últimas eleições. Ainda que sua campanha tenha sido vinculada ao governo de Nestor. Não há como negar o crescimento econômico, ainda que com estatísticas manipuladas. E pra não deixar dúvidas na boa atuação feminina, a candidata que ficou em segundo, também é do gênero.

É mais uma barreira machista ultrapassada, na América Latina. Já temos uma mulher no topo político chileno. Fala-se em candidatas na próxima eleição brasileira. Que venham logo. Com apliques ou penduricalhos. Maquiadas ou de rosto lavado. Executivas ou ripongas. Elegantes ou bregas. Tatuadas ou "pircingadas" ( como a prefeita desta cidade) . Com ou sem tpm. Mas sempre dispostas a ouvir, a ponderar, a entender, a agir e dar carinho.

Sei não, mas já sinto um novo perfume no ar...