quarta-feira, maio 21, 2008

Praia do "Futuro"

Ler jornal na praia é coisa pra maluco. Tá bom. Todo mundo sabe. Na impossibilidade, a gente cria. Ou recria. Notícias proféticas. Achadas num jornal abandonado numa cabine blindada de praia, do ano de 2036...

"Washington da Silva Júnior, de 15 anos, era uma promessa do esporte cearense. Após perder o pai, vítima de dengue hemorrágica e da mãe, acometida de virose desconhecida, ele carregava nos braços a esperança da família, para uma vida melhor. A prancha de surf. Tinha gente que já apostava numa medalha de ouro certa para o Brasil, nas olimpíadas de 2038, daqui há dois anos.

Trajetória frustrada. Hoje, de manhã, Washington morreu nas areias onde aprendeu a caminhar, depois de levar dois tiros do segurança de uma barraca, na Praia do Futuro. Pra encurtar o caminho, que estava acostumado a fazer todos os dias, ele decidiu pular o muro da barraca, ao invés de seguir os 3 quilômetros que restavam para entrar gratuitamente na praia pelo portão principal.

"Não sei o que deu nele, pra tomar uma atitude destas. Mas não tive como evitar", justificou o segurança João Ovelha, ainda abalado. Um representante da empresa Destroiers, da qual Ovelha é funcionário, disse que não há nada há fazer neste caso, já que o segurança apenas estava cumprindo o seu trabalho. O coronel PM, Augustus Mandado, chefe da equipe que fiscaliza a área, lamentou a atitude impensada do esportista. Ele aproveitou para alertar à população que respeite a linha de ordenamento das barracas e procure as cinco entradas públicas da orla para entrar na praia.

Esta foi a segunda morte ocorrida na Praia do Futuro, neste ano, por invasão do espaço privado. Oito meses atrás, um turista suíço foi morto a tiros, após discutir com um segurança da barraca Praia Croco. Ele desrespeitou a ordem do segurança que o impedia de entrar na praia pela área da barraca, porque havia comprado uma lata de cerveja de um camelô, estabelecido na calçada fronteira ao local. Devido ao incidente, os proprietários da Praia Croco reforçaram o policiamento, para inibir este tipo de invasão. "Nossos homens são treinados rigorosamente para barrarem qualquer pessoa que pretenda entrar pela barraca consumindo lanches ou bebidas adquiridas fora daqui, pois pagamos em dia nossos impostos", esclareceu Nilton Invasor, gerente da Croco

terça-feira, maio 20, 2008

Aconteceu no Lami - parte IV - O menino loirinho


Um novo planeta? Uma cena de filme? Um sonho?... Vai ser difícil engolir a realidade desta parte da história das duas, pensava Saly, ainda tensa, na direção do carro. Só neste momento ela percebe que continua em alta velocidade. Que dia é hoje mesmo? Pergunta à Lisa, 20 quilômetros mais devagar, depois de um longo suspiro...
Era domingo. Ainda. Até chegarem à esta conclusão não foi tão fácil assim... O tempo - de terror e alegria - em que passaram naquela chácara, parecia enorme. Uma semana, no mínimo.
Começaram a relembrar. Pelo menos, colocar ordem nos fatos. Na tentativa de um entendimento.
Tudo ainda estava muito confuso, lembrou Saly. "Aquele menino... Tenho certeza da sua existência... eu falei com ele..."

"Deve ter sido muito fumo ou o uísque, meu bem!" Respondeu Lisa.

Saly já tivera muitas alucinações, como consequências das pirações de maconha ou álcool. Ela sabia que desta vez, o consumo fora mínimo, impossível de qualquer anormalidade. Por isto a encucação...
Assim como o menino, haviam os bandidos... Ou será que tudo foi produção de sua cabeça...
Não, um cara, pelo menos, ela tem certeza de sua visão. A Lisa não viu... Ah, mas ela ouviu os passos! E bem reais!

"Lisa, a gente deixou a casa aberta... Tudo ficou lá... lençóis, cobertores, roupas, perfumes, maquilagem... lembrou Saly, ao estacionar o carro na garagem do ap em que moravam. Eram quase dez da manhã. Saly arriscou: vamos voltar lá. Tenho que tirar estas dúvidas. Vou achar o menino, pelo menos!"

Decidiram ir de moto. Por quê mesmo? Nem elas sabiam... Só sabiam que tinham pressa... Por quê?

Só Lisa subiu ao ap pra pegar a chave da moto. "Traz uma cerveja", gritou Saly. Lisa trouxe duas. Colocou o capacete e nem deu o outro pra Saly, porque sabia que ela, como sempre, não usaria. E se mandaram.

Quarenta minutos pro meio dia, mais ou menos, as duas já estavam na frente da chácara. De novo. E com um grande frio na barriga. De novo. Sem qualquer arma. Sem polícia. Sem certeza.

Mas, estranho, a sensação de paz! "Uma paz bucólica", lembrou Lisa.

O cenário era o mesmo que haviam deixado...

O portãozinho de madeira todo aberto. A porta principal também aberta. Mesa posta na frente da casa. Tudo parecia intocado. Sol à pino sobre as árvores centenárias. Nenhuma folha se mexia. Estranho é que havia um vento primaveril. De fora, a impressão que dava era a de uma família que havia recém almoçado, mas seus membros dispersos em algum local da moradia. O silêncio falava. Dava até pra ouvir gritinhos de... crianças... brincando...

Saly e Lisa ficaram paradas por um bom tempo, antes de entrar na casa. Decidiram entrar juntas. E rápido!

Inhéééééééééé... o barulho estridente fez as duas recuarem imediatamente. Era a porta do galpão que batia conforme o vento.

Saly resolveu ir até lá. Tudo igual. Como antes. Passou pelo poço. Ia levantar a tampa, mas sentiu um frio estranho... A caneca pra água continuava no mesmo lugar. Puxou a tampa, espiou o fundo... Outro friozinho no estômago. Fechou imediatamente! Voltou quase correndo e entrou na casa, apressada.

Ajudou Lisa a colocar as roupas e os outros trecos na mochila. Tirou a mesa. Queimaram o lixo. Lavaram a louça. Trancaram a porta da cozinha por dentro. A chave da porta da frente ainda estava no chão. Trancaram a porta. A moto?

Lá no portãozinho de madeira... Ajeitaram tudo e se mandaram. Com uma estranha sensação de que estavam sendo observadas...

No caminho, pararam na casa mais próxima. Saly perguntou pro morador onde poderia encontrar o menino loirinho. Ele riu. "Ué, moça, ele tá aí no colo!"

Saly também riu e comentou pra Lisa: "outro bêbado! Vambora!"






quinta-feira, maio 08, 2008

Resposta a um bundão!

Quem trabalha em rádio ou tevê, já sentiu várias vezes este drama na pele: programa quase na hora de ir pro ar e um convidado acaba de desmarcar a entrevista. Estava passando mal. Viajou e não conseguiu retornar à tempo. Ou... simplesmente, amarelou...
Cada produção tem o seu lema ( ou dilema), o seu quadro de reserva. Apesar do frio na barriga, que a situação sempre provoca. No nosso caso, a situação era tranquila e sempre resolvida na ponta da língua...
Liga pra Dilma!
Ah, o assunto do dia é arte? Não tem problema...
Assim, em poucos minutos, a solução estava encontrada!
Não lembro de alguma zebra, durante os quase três anos do Guaíba Mulher - um programa diário que eu produzia na rádio Guaíba, início da minha vida profissional, década de 70, em Poa - algum furo por ausência de entrevistado. A operação Dilma beleza não falhava nunca. Em casa, na faculdade, no PDT, sede do seu partido de origem, a gente a encontrava. Mesmo sem celular, objeto estranho na época. E ela nunca dizia não.
Sem atrasos. Sem desculpas. Sem frescuras. Sem lero-lero.
Prática, segura e objetiva, como Dilma Rousseff! Mesmo que a pauta passasse longe de economia, assunto de sua especialização.
Nada de auto-promoção política!
Demagogia muito menos. Na época, Dilma trabalhava muito nos bastidores do seu partido, recém fundado por Brizola e que ainda conservava a ética como princípio político e existencial. Vestida sempre na simplicidade de uma calça jeans e camiseta. Pouquíssima maquilagem, pouco notada devido aos imensos e inseparáveis óculos fundo de garrafa. Naquele tempo, não pensava em se candidatar a algum cargo político, apesar da insistência dos companheiros trabalhistas.
Hoje, no antro do poder, familiarizada no inevitável jogo de estratégias políticas, aspirando, quem sabe, à Presidência, não sei se a ministra ainda mantém a mesma postura da Dilma dos tapa buracos de programinhas regionais...
Felizmente, o caráter e a personalidade continuam firmes e fortes! Pelo menos foi o que pode se notar diante de sua resposta a um senador bundão-sádico-insano-idiota-bobo da corte, que tentou persuadi-la diante de terrorismo verbal, lembrando das torturas humilhantes pela qual ela tinha passado na ditadura.
Pobre coitado, que não conhecia a reação elegante de uma brava guerreira! Sem se desmanchar em prantos de mulherzinha, a loba enrolou o dito dentro da própria armadilha que ele havia preparado! E o que é melhor, sem perder a ternura!

sexta-feira, maio 02, 2008

Praia do "Futuro"

Ler jornal na praia é coisa pra maluco. Tá bom. Todo mundo sabe. Na impossibilidade, a gente cria. Ou recria. Notícias proféticas. Achadas num jornal abandonado numa cabine blindada de praia, do ano de 2036...
"Washington da Silva Júnior, de 15 anos, era uma promessa do esporte cearense. Após perder o pai, vítima de dengue hemorrágica e da mãe, acometida de virose desconhecida, ele carregava nos braços a esperança da família, para uma vida melhor. A prancha de surf. Tinha gente que já apostava numa medalha de ouro certa para o Brasil, nas olimpíadas de 2038, daqui há dois anos.
Trajetória frustrada. Hoje, de manhã, Washington morreu nas areias onde aprendeu a caminhar, depois de levar dois tiros do segurança de uma barraca, na Praia do Futuro. Pra encurtar o caminho, que estava acostumado a fazer todos os dias, ele decidiu pular o muro da barraca, ao invés de seguir os 3 quilômetros que restavam para entrar gratuitamente na praia pelo portão principal.
"Não sei o que deu nele, pra tomar uma atitude destas. Mas não tive como evitar", justificou o segurança João Ovelha, ainda abalado. Um representante da empresa Destroiers, da qual Ovelha é funcionário, disse que não há nada há fazer neste caso, já que o segurança apenas estava cumprindo o seu trabalho. O coronel PM, Augustus Mandado, chefe da equipe que fiscaliza a área, lamentou a atitude impensada do esportista. Ele aproveitou para alertar à população que respeite a linha de ordenamento das barracas e procure as cinco entradas públicas da orla para entrar na praia.
Esta foi a segunda morte ocorrida na Praia do Futuro, neste ano, por invasão do espaço privado. Oito meses atrás, um turista suíço foi morto a tiros, após discutir com um segurança da barraca Praia Croco. Ele desrespeitou a ordem do segurança que o impedia de entrar na praia pela área da barraca, porque havia comprado uma lata de cerveja de um camelô, estabelecido na calçada fronteira ao local. Devido ao incidente, os proprietários da Praia Croco reforçaram o policiamento, para inibir este tipo de invasão. "Nossos homens são treinados rigorosamente para barrarem qualquer pessoa que pretenda entrar pela barraca consumindo lanches ou bebidas adquiridas fora daqui, pois pagamos em dia nossos impostos", esclareceu Nilton Invasor, gerente da Croco."