Dia friiiiio, pra rachar, pele, ossos, corações e o escambau que resta do corpo teimoso de quem vive em São Paulo. O som alto de Winehouse no mp3 de Marga estava animadão. Ela seguiu metros adiante, mas a imagem dos olhos escuros e tranquilos, salientes no recorte maior da destruição fotográfica, não saia da sua mente.
Não resistiu. Retornou o rumo da corrida e começou a juntar nariz, faces, sobrancelhas, cabelos, olhos. Pra quê? Nem ela sabia...
"Foi hoje, bem cedinho, moça", informou o homem coberto com três cobertores rasgados e uma botina empoeirada, tipo pm. É o Tom. Quer dizer, Tom na cabeça de Marga, que nunca perguntou seu nome de verdade. E nem sequer trocou qualquer papo com ele. Suas interações se resumiam nos positivos dos polegares, todas as manhãs.
"Foi um carrão dum bacana, com um som a todo o volume, que espalhou as fotos rasgadas. Vai ver, foi traído pela gata", disse Tom, com um sorriso irônico de bom entendedor do assunto. "Mas, moça, me desculpe a intromissão... tu conhece a dona"?
"Não tá ruim não, agora mesmo eu cato o resto, pela avenida. É só me dar unzinho pro pão e o leitinho das crianças... A minha do quentinho, eu já botei pra dentro..."
É, pra quê, concordou ele. "Não passam de papel. Dureza é a rua, moça!"