segunda-feira, outubro 08, 2007

Sandra


De dentro do mar, onde várias vezes armei meu altar pra gritar e te mandar energia suficiente capaz de virar o jogo, ainda que nos minutos finais...





O cenário é muito diferente daqueles dos nossos tempos de Porto Alegre, desde a Lima e Silva, rua onde nasci e tu me querias fazer de boneca... E como tu gostavas de boneca... Me lembro até hoje da Cíntia, aquela boneca grandona, com cabelos loiros, cara, braços e pernas de louça, que por um longo tempo tu guardaste encima da cama. Eu não gostava muito, mas até que a achava linda e afinal, deixava nosso quarto mais bonito... Que fim levou? Deve ter sido difícil se desfazer dela... Mas me parece que tu enfrentaste esta perda no momento certo e com tranquilidade.



Não lembro tampouco da casa da Riachuelo, onde tu nasceste e que quando fui conhecer, há pouco tempo, tinha um edifício no lugar.



Mas foi na Ramiro, ah, isto eu me lembro, em frente ao Hospital das Clínicas, que levou aaaaaaanos pra ser construído, o lugar que mais te marcou, até os teus descompromissados 21 anos. Lá, tu sofreste a dor da morte repentina do pai. Virou adulta e provedora de lar, ao ser obrigada a trabalhar pra ajudar nas despesas da casa, enquanto a pensão da mãe demorou pra ser regulamentada.




Poxa, como lembro do teu extremo cansaço, ao voltar da loja de um nervoso e truculento Alceu, pra ganhar uns pingados de grana. Tu choravas sentida, acreditando que por ser da família, a delicadeza seria linguagem corrente... Melhorou com o primo Ruben, que era diretor e te deu o cargo de Ajudante de Biblioteca ( chiiiiii como rimos deste título), na Faculdade de Farmácia.



Quantos amores e desamores... Apesar da tua cara linda, te traía pela insegurança. Choravas porque não queria ficar com o Jorge, que te amava. Choravas porque querias ficar com o Dudu, que era indeciso... Choravas porque ia ficar solteirona, porque já estava com 23 anos! Choravas porque tínhamos que passar os feriadões quentésimos em Porto Alegre, quando todo mundo ia pra praia. ("Ah, mas um dia eu vou ter uma casa na praia, pra gente ir sempre"- era o que tu vivia falando e que eu sempre desconfiei, era mais pra me acalmar, pois eu vivia querendo ir embora, atrás do mar...).


Manteiga derretida, (lembra?) sempre foi o teu apelido. Acabou se apaixonando e casando com o Clides, que não tinha nada a ver com a história... E te levou embora.


Caxias. Foi outro drama, na nossa história. Tivemos medo que tu não foste te adaptar... Ficou no medo. O início, lembro que foi difícil, mas felizmente, durou pouco. Veio a Tita. E com que altivez e resistência de Leão tu enfrentaste a barra do altismo. Sempre com a maior paciência e carinho... Tu, libriana das boas, que adoravas festas e auê, nunca demonstraste inconformidade por ter que renunciar a tudo isto pra cuidar da Letícia, uma eterna criança.


Depois de um tempo, apostou em outra gravidez. E não sei por que cargas d´água , todo mundo ficou com medo de te perder. Me lembro que quando chegou o aviso que tu ias pro hospital pra ganhar a Lali, era mais de meia noite e nós nos mandamos de carro, pra Caxias, com a maior preocupação do mundo, em plena imensa neblina da madrugada na estrada sinuosa da serra. E veio a Lali, minha afilhada maravilhosa. Cheia de saúde e paz. Linda e centrada. Nosso orgulho. E tem o teu cheiro.


Ir pra Caxias, pra tua casa, pra tomar vinho da Colônia, nos finais de semana, era uma festa! E nas férias então, quando a gente se mandava pra pra casa de vocês, na Rainha do Mar ( o que tu não conseguias, heim, com a tua determinação? Sóóoo juntando os trocados... e só tu sabes que eram trocados meeeeeeeeesmo). Os churrascos... Os finais de ano, aquele porre de champanhe, na beira do mar, que de tanto rir, tu fizeste xixi nas calças. Era muito, muito bom...


Hoje me acordei com uma saudade imensa de ti. Não tenho como te ligar, como fiz durante vários anos, no 08 de outubro, sempre com a promessa de no próximo dar um beijo in loco. Te saúdo, com uma taça de champanhe.
Viramos o jogo. Não há mais distâncias...