terça-feira, outubro 23, 2007

Jornal de ontem

Acho que nasci jornalista. Leio jornal desde pequeninha. Política. Economia. Artes. Esportes. Com o tempo, não lia apenas os cadernos setorizados. Não lia mais. Engolia. Era o que se chamava enxugar os jornais. E tudo que estivesse impresso. Classificados. Receitas. Coluna social. Fofocas de artistas. Convites de enterro. Moda. Tudo. Foram anos! Mesmo fora das redações. Quando não dava pra ler durante a manhã, lia à noite. Não ia pra cama sem uma leitura aprofundada deles. Mesmo com a grana curta. Quando não dava pra comprar o jornal diariamente, dava um jeito de lê-los em algum lugar. Mesmo com a internet, não abria mão de sujar as minhãs mãos, pra sentir o doce prazer de devorar o impresso.

Eis que de repente, o que eu jamais imaginava que fosse acontecer na minha vida de hábitos nem tão coerentes, enjoei de ler os jornais impressos! Não acreditava mesmo. Pensei que fosse uma fase, uma temporada de férias, um protesto contra a violência, sei lá... Mas, né, não. Na verdade, cansei da mesmice. E assim como eu, acredito que muita gente!

Não tem graça você comprar o jornal e dar de cara com notícias velhas, defasadas, já comentadas e exploradas no dia anterior pela vasta rede de agências e de pessoas bem informadas que circulam pela net. E ainda de graça. Se algum jornal insiste em cobrar pela assinatura digital, sempre existirá outro com a mesma notícia oferecendo quentinha e sem pagar nada por ela. Hoje quem não tem computador em casa, tem no trabalho. Eu fico imaginando, quando o computa for popularizado...

E fico imaginando porque os jornalistas da turma executiva ainda não enxergaram isso. Gastam grana em seguidas campanhas pra modificar lay-out, diagramação e sei mais lá o que, sem modificar, no entanto, o essencial, o coração, a rotina da redação, o algo mais que não tem na internet. Assim como as revistas fazem, pra diferenciar dos jornais, com matérias especiais.

O jornal precisa disso. Tomar o lugar da revista. Bater fundo numa matéria inédita e até aprofundar-se, de vez em quando, em alguma notícia, pode ser factual mesmo. Repórteres, com experiência, conseguem fazer bem este papel diferencial. O restante, as notícias do dia anterior, poderiam ser dadas através de uma outra turma, que gastariam só o tempo de chupar as notícias da internet e entregar tudo mastigadinho para o leitor. As grandes redações seriam transferidas para a net.

Taí, um jornal bem mais enxuto, bem mais agradável e original. Com cara de revista, mas cobrando a terça parte de uma. Já as revistas terão que escolher um novo caminho, acho que se sofisticando e com matérias mais especializadas.
"Bora" gente, não vamos deixar o jornal morrer.