quarta-feira, setembro 06, 2006


Gay macho

A paixão e o tesão parecem aflorar mais na frente do mar. Não sei se pela descontração, a paisagem, a liberdade, os corpos quase nus. Ou tudo junto. A verdade é que basta dar uma voltinha pela praia, que a gente percebe bem isso. Seja na prática. Seja nas pessoas em volta. Casais se agarrando, se beijando e um moooooonnnnnte de carinhos jogados ao vento. Em Fortaleza, como em Salvador,nos lugares turísticos, os preconceitos são bem menores do que em outros lugares deste país. Por isto, é comum ver parceiros do mesmo sexo trocando carícias. Mesmo assim, grande parte destes carinhos são alvos de comentários. "Porra, dois baitolas de bigode... pode...", disse surpreendido um vendedor ambulante de colares e bonés. Por um bom tempo, ele seguiu o seu trajeto, quase de costas, para não perder a cena, novamente, quem sabe, excitado e feliz.
O contexto me lembrou um artigo inspiradíssimo de Arnaldo Jabor, sobre o filme dos heróis machos, o Segredo de Brokeback Mountain e a sua resistência em assistir o dito. "Pra quê ver mais um filme politicamente correto, onde o amor de dois cowboys é justificado romanticamente"? E depois que viu - segundo ele, o viado sempre encarnou a ambiguidade dos sentimentos machistas - mudou sua concepção de vida, inclusive. "É algo mais que romântico. Há um heroísmo épico, grego, como entre Aquiles e Pátroclo na Ilíada. É muito bom por ser uma reflexão sobre a fome que nos move para os outros, sobre a pulsação pura de uma animalidade dominante, que há muito tempo não vemos nestes tempos de sexo de mercado e de amorezinhos narcisistas. este filme amplia a visão sobre a nossa sexualidade", disse.
Pena que a arte faça parte de uma tribo ainda elitista, neste país. A cultura é cara. Cinema, teatro, livros. Se houvesse interesse dos governantes, poderia ser integrada como artigo da cesta básica, consumo de primeira necessidade e por consequência, problema de saúde pública. Mas, isto é papo pra outra hora...