quinta-feira, agosto 31, 2006

Paraíso à disposição...

Praias lindas. Areias branquinhas... Mar morno... Sol durante todo o ano... Luz elétrica. Água encanada. Rede telefônica. Ruas próximas, com asfalto. Estacionamento particular. Ônibus à qualquer hora. E uma vista esplêndida. Tudo isto, de graça...
Bem, você só paga as taxas públicas (?), quer dizer, algumas. Porque, no Ceará "não tem disso não". Virou terra de ninguém. E institucionalizada. Venha prá cá correndo, antes que outros metam a mão...
Pegue sua mochila e a primeira carona. Praia do Futuro, o destino de preferência. Nos primeiros dias, vá com calma. Estabeleça um limite. Faça um quadrado. Junte umas pedras, prepare o cimento e fique por lá. Ah, mas faça uma porta e tranque à chave, pra quando você quiser se divertir na noite fortalezense e não tiver algum dissabor, quando retornar...
Depois de alguns dias, com o fôlego já recuperado e sem mais aquela sensação de medo e vergonha, vá aumentando o seu espaço. Isto é, se alguém ainda não estiver no seu lado.
Dobre o seu terreno. Aumente a sua casa. Vertical ou horizontalmente. Tanto faz. Ou melhor, comece aos pouquinhos. Experimente uns cinquenta metros além do chão. Aguarde. É só pra ficar seguro, pois ninguém vai reclamar.
Após alguns meses, tente vender algumas bebidas, tira-gostos... Ponha umas mesinhas. Dê nome ao seu estabelecimento. Custa caro? Peça o patrocínio de alguma empresa. Pública ou privada. E monte sua placa! Construa um murinho, baseado naquele mesmo esquema, aos pouquinhos...
Pro murinho, peça a ajuda de um político influente, que está se recandidatando. Ele nem vai se preocupar com o nome registrado em área invadida. Ora, escrúpulo. Pinte o nome dele. Ainda dá pra faturar uma graninha... Vá com calma. Daqui à alguns meses, se ainda tiver um espacinho no lado de sua barraca, monte um parque aquático.
Mude o seu guarda-roupa, porque você passará a frequentar reuniões importantes, na sede da FIEC ( a nata dos empresários locais). Seu nome será citado, frequentemente, nas colunas sociais dos principais jornais cearenses. E com a maior carinha de pau, você dará entrevistas, nas emissoras de tevês locais, dizendo que está fazendo um bem à população e obtendo recursos para o estado.
A justiça? Ah, deixa pra lá. Há pouco, uma juíza do Tribunal Regional Federal, de Recife derrubou a liminar do Ministério Público, que impedia a invasão... Piratas, correi. O último apaga a luz.

sexta-feira, agosto 18, 2006

O estagiário
Caminhando pela praia, nesta manhã maravilhosa de sol, fui abordada - educadamente - por um moço, cerca de 19 anos, com um questionário na mão, me perguntando sobre hábitos e preferências alimentares. Era para uma agência de publicidade, que entre outras coisas, estava colhendo subsídios para a campanha de lançamento de um novo produto no mercado. As perguntas, no total de 10, até que foram bem rapidinhas. Não doeu. Não perturbou o meu trajeto. E o moço ficou agradecido: "em quase três horas de trabalho, este foi o segundo relatório que consegui concluir. Estagiário sooooofre", disse ele.
"E cooooomo!" Respondi, complementando - pra dar um alento e uma injeção de ânimo, no "pobre trabalhador" - ser a atividade muito importante não só na vida profissional, como na prática. E fiquei pensando, na retomada de minha caminhada, nos tempos de meu estágio, ainda no primeiro ano da Faculdade de Jornalismo, na Televisão Piratini, de Porto Alegre, onde até colocar comercial no ar - aprendi.
Mas tive sorte de sair ilesa das gozações de colegas. Como por exemplo, a busca de uma câmera ( naquela época, década de 70, imensas) e... de ônibus, no outro lado da cidade, como fizeram com outras estudantes de comunicação. Só pra não apagar a fama, me lembrei ainda, de uma piada entre amigas: era dia do aniversário de 40 anos de uma conhecida advogada. Ela acorda feliz, esperando os abraços dos filhos e do marido. Nada. Ninguém toca no assunto. Toma banho, se arruma e vai para o trabalho, achando que vai receber uma surpresa. Nada. No meio da tarde, um convite para um chope com um colega. É a vingança, já que ninguém lembrou do seu niver, pensou. Durante o dito, no barzinho próximo do trabalho, um convite para o apartamento dele, mais aconchegante. Eles chegam. Ele tira o paletó. "Pode tirar a camisa, que eu não me importo", arriscou, meio tímida. Ela vai ao banheiro e coloca o roupão, atrá da porta. Ele apaga a luz e insinua : "vem mais pra perto, senta aqui". Quando ela chega, ele levanta, subitamente, acende a luz e um monte de gente, marido, filhos, amigos cantam o parabéns. Rapidamente, ela olha ao seu redor e vê uma mulher quase nua, deitada no sofá e grita: "estagiário só faz merda!".

domingo, agosto 13, 2006

Praia Invadida

Imagine você, chegar numa praia, após um dia de trabalho, ou mesmo acordar e tirar aquele dia pra tomar um banho de mar, sentar numa espreguiçadeira confortável, de frente pro mar, chamar o garçon e pedir uma cerveja gelada ou um uisquezinho - aquele seu - beliscar uma batata-frita da hora - ou um camarãzão, ouvir uma música ao vivo. Ah, ainda ficar despreocupado, já que seguranças particulares estão atentos aos seus pertences. E também nas crianças, que se divertem nos confortáveis e próximos brinquedos aquáticos e não pensar em mais nada da vida... Pois isto é possível. Aqui na Praia do Futuro, em Fortaleza. E até com preços bem razoáveis... Ou melhor, " bem razoáveis", se a gente fingir que não está sendo otário e pagando por serviços que estão sendo utilizados encima de um terreno que lhe pertence. Você desconta. E muito. De seu suado dinheirinho. Em impostos!
Vira e mexe, o Ministério Público tenta colocar ordem na bagunça empresarial (estranhamente apoiada por grande parte da população local), como agora, por exemplo, em que ameça interditar os parques aquáticos e estabelecer um prazo de um mês para que as cercas destes luxuosos restaurantes ( aqui conhecidos como barracas de praia), sejam retiradas. É que eles são delimitados por muros! Na areia da praia...
A posse do terreno é tão descarada, que alguns empresários chegam ao displante de formar um verdadeiro "apharteid social, prepotencial, e qualquer mal maior" , "proibindo" que outros comerciantes mais modestos, vendam também seu peixe. Ou melhor, seus pastéis, seus salgadinhos, suas cervejas em latas, seus refrigerantes - através de truculentos seguranças. Tem outros que chegam a "impedir" inclusive a entrada ou passagem de banhistas ao mar, nos e (pelos) estabelecimentos, porque compram algum produto ( a metade dos preços cobrados nos restaurantes), nestes carrinhos de lanches!
Moradores da praia, contribuíntes, zé ninguém e outro escambau de gente torcem pra que a justiça não faça "vistas grossas", novamente e coloque as barracas no verdadeiro lugar, que seu próprio nome define: sem paredes, sem muros, sem delimitações. Só com tetos. E como proteção do sol. O povo e a natureza agradecem.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Saudade do Quintana, da ética, da justiça...

Andando na praia (do Futuro, a minha praia), hoje nublada e calma de turistas, depois da leitura dos jornais e dos noticiários da tevê, cujos conteúdos nos mostram uma enxurrada de parlamentares, juízes e promotores legislando em causa própria, me lembrei do Mário Quintana. Na segunda e última vez que o entrevistei para o jornal local do SBT, ainda no hotel do Falcão, em Porto Alegre, quando nos despedimos, eu falei que ia ficar com saudades, até a próxima entrevista. Ele olhou para o cinegrafista e naquela sua calma peculiar e imensa sabedoria, disparou: "a saudade que dói mais fundo é a saudade que temos de nós".
A pureza e o caráter do ser humano não está condicionada a datas . Vem do fundo da alma, penso eu. Parece que a maioria dos homens públicos brasileiros nunca sentirão esta saudade, ou quem sabe, diante de uma remota possibilidade neste sentido, mudam logo de pensamento, para projetar uma nova forma de dar um golpe nos saudosos contribuíntes. Imagino esses homens garotos... Será que roubavam no jogo de bolinhas de gude, será que escondiam a fruta mais gostosa para si próprios ? Será que um dia, talvez perto da morte, eles refaçam o pensamento do Quintana, lamentando a vergonha que dói mais fundo?
EntÃ

terça-feira, agosto 08, 2006

Os "bingeworkers" ( parece um palavrão, mas nada mais manso, apesar da tradução aproximada de trabalhadores compulsivos), estão na moda. Os "bing" e... lá vai bola, significam nada mais, nada menos, do que uma nova atitude entre os executivos. E pra lá de tentadora: trabalhar muito, quando tem vontade - manhã, tarde, noite, sem limite de horário - pra deixar de trabalhar por vários meses, só para fazer o que tem vontade. Ou seja, lazer puro. Tem muitos que escolhem esquiar na Suíça, outros fazem escalada e outros rezam em templos específicos. Um conselho barato e bom é kitesurfar na Praia do Futuro. Especialmente neste últimos dias, quando os ventos , se alguém bobear, carrega até gente, que caminha na beira da praia.