sábado, outubro 11, 2008

Prova da Vida

"-Ei, cabra, olha só, agora voltei a ser um cidadão!" -

A alegria de Ronivon Santiago Pereira, mais conhecido como Marginal Tatoo, por ganhar a vida fazendo tatuagem temporária na praia, parecia não ter fim, neste sábado. Depois de dois anos e seis meses, de espera, finalmente, ele tinha motivo suficiente pra empunhar a sua carteira de identidade como uma bandeira.

No último dia de aula, aos 15 anos, ( hoje tem 17), ao invés de voltar pra casa, pegou um ônibus e se mandou pra Taíba. Cidade distante cerca de 50 quilômetros de Fortaleza. Lá mora uma amiga. A única pessoa que ele tinha falado sobre a viagem, foi sua mãe. Que tem problemas de surdez. Ronivon tem cinco irmãos menores. O pai, pescador, completa a família.

No outro dia, a notícia se espalhou pela Praia do Futuro, especialmente no Serviluz, onde morava. Ronivon morreu! De tanto apanhar! Parece ter sofrido um assalto, dizia o amigo, que encontrou o corpo, há poucos metros de sua casa, semi decomposto. Sua mãe, que disse ter recebido um aviso, " um forte arrepio de frio, no momento em que ele estava chegando da escola", reconheceu o corpo no IML.

O enterro foi rápido. E agitou a comunidade. Uma semana havia se passado e as pessoas não conseguiam esquecer a perda repentina de Ronivon. Uns diziam que ele fora morto por uma quadrilha, por não ter pago 100 gramas de maconha, que estava devendo há vários meses. Outros garantiam ter sido vingança de um colega de escola, que ficou despeitado por perder a namorada pra ele. Tinham tanta certeza disto, que dois dias depois do velório, destruíram portas e janelas da casa do suposto assassino.

É óbvio. Teve até um pastor, que foi visitar a família. Disse ter recebido uma mensagem de Ronivon. Estava sofrendo muito. Devido aos inúmeros pecados cometidos durante sua curta existência. E por não ter temido deus, quando vivo. Pediu - via pastor - que toda sua família frequentasse a igreja dele. E que fizessem o possível pra colaborar com os "homens de Jesus". Só assim, ele encontraria o caminho da paz.

Quando Ronivon chegou em casa, depois de duas semanas de férias, não imaginava a baita dificuldade que iria encontrar no seu caminho pra provar que estava vivo. Só não apanhou, de fato, porque sua mãe afirmou não ter ouvido bem, o recado...