segunda-feira, novembro 10, 2008

Lições na praia!

-Nem tão... Sabe que, apesar da tal crise que os barões vivem falando, por aqui ela não deu o ar de sua graça, ou desgraça, filha!

A resposta um tanto inusitada da vendedora de biquini justificou a sua disposição de todo dia andar quilômetros e quilômetros pela praia cantando Joelma e Martinho da Vila. Apesar do peso de sua sacolona e da baixa temporada.

-Puxa, mas é estranho, pra todos os vendedores que eu fiz esta pergunta hoje, todos reclamaram da falta de freguesia... Pronto, teve um que me vendeu há pouco, esta bicicletinha de, acho que feita de junco, mas bem acabadinha, pra colocar vasos de flores, em jardins, por 15 realzinho. E mais uma coca-cola! O preço mesmo era R$ 70. E se eu insistisse, ficaria por menos...

-Ah, filha - posso sentar aqui? - ( e já sentando...) tem gente que faz tudo errado, já "nasceram" brigado com a vida, como aquele tal do gringo mandão (?)... e só sabem reclamar. Se as coisas tão ruim, não adianta chorar e ficar reclamando. Lágrima paga comida? Lágrima paga conta? Paga nada! Nem cachaça... Eu tenho um cabra velho encostado lá em casa... depois que ele foi enganado pelo patrão, trabaiando duro no roçado por anos e anos, foi mandado embora como um cão viralata. Pegou uma tal de "depre... nsão", aí, essa doença de rico...! Agora só quer beber... E quem paga as pingaiarada toda? Tá filha, não vou ficar amolando com meus probema, mas é uma coisa que eu queria dizer pra tu, ainda bem que eu tenho esses biquini e essas canga pra vender! Faz quatro anos que faço isso e nunca fiquei um dia sem vender unzinho sequer... Por quê? Porque mesmo com o coração doído eu não fico chorando as miséria... Se não me derem o preço que vale, eu baixo, as vezes fico até sem o lucro. Vendo pelo preço que comprei, quando um dia tá ruim... Só pra não dizer que passei em branco. Como este aqui, ó, que comprei por sete e sai por vinte. Agora pouco, uma madama pagou R$ 30 real e nem chiou... Tem que saber vender. O dia que tiver negativo pra essas roupa, eu vendo lenço, até de papel! Então tá, bom dia, filha. Boa praia!

-Brigada. Boa sorte! Vá pela sombra...

Ainda com o "é devagar, é devagar, é devagar, é devagar, devagarinho", como trilha sonora da brilhante lição sócio-econômica-popular, fiquei pensando naquela batida frase das aulas iniciais dos cursos de marketing, como opção de crises financeiras: alguns choram e outros vendem lenços!

Simples assim. Não é preciso estudar tanta teoria, pra saber que a prática mais certeira vem de onde aperta o bolso. Ou o coração...