domingo, março 09, 2008

Faz parte. Mas até quando?

Sei que em todos os públicos, as análises precisam serem feitas com moderações. Seja em um encontro de jogadores de futebol, como em um congresso de cientistas. Para um jornalista, principalmente, que vai cumprir os eventos. É preciso vestir, literalmente, as roupas, de acordo com o ambiente. Tanto na parte física, quanto mental. Com isto, você se desnuda dos limites. Dos "pedestais" intelectuais. Da arrogância, tão comum entre os que tiveram alguma chance de cultura. E partir para cobrir a matéria, como se fosse um igual.

Desta forma, tento ver o Dia Internacional da Mulher, como parte do meio. Já aceito os inumeráveis presentes e cumprimentos, especialmente das mulheres, sem qualquer irritação. Faz parte. Do que mesmo? Ah, da sociedade. Como o dia das mães, dos pais, do amigo, dos namorados. Dos gays. Dos índios. Dos negros. Faltam o dos homens, dos cachorros, dos políticos...

E assim a vida segue normalmente. Depois da festa, das homenagens, das várias matérias ( que merecem até capas) , resta esperar o ano que vem. Tudo como dantes, no quartel de Abrantes. (Que por sinal é muito bonito). Os homens continuam pensando igual ( mesmo àqueles que presentearam as mulheres de suas vidas com flores). As mulheres ( que receberam e também homenagearam), continuam com o mesmo pensamento e a mesma rotina dentro de casa: trabalhando duplamente e ensinando suas filhas a trilharem o mesmo caminho. "Entendo que as mulheres precisam lutar pela sua independência, mas não admito que um homem faça os trabalhos domésticos, como lavar roupa e pratos ou varrer a casa", segundo revelou uma jovem senhora bibliotecária cearense, de 29 anos ao jornal o Povo, durante uma caminhada de protesto em prol das mulheres, na avenida Beira-Mar. "Por que a mulher é mais sensível e faz parte da natureza dela cuidar das pessoas", justificou outra, dona de uma banca de revistas.

Então tá. O que adianta tentar modificar o status quo, enquanto o homem continua sendo educado o contrário? Seria hipocrisia dizer que isto acontece somente nas classes menos favorecidas. Ocorre até entre os que têm a responsabilidade do esclarecimento. Como os jornalistas. A gente sabe que há muito mais mulheres trabalhando na profissão do que os homens. Mas quantas são responsáveis por escrever um editorial de jornal, rádio ou tevê?

Como diz o meu colega Sakamoto: " jornalistas acham que são iluminados pela razão. O jeito que tratamos nossas companheiras de trabalho - conscientemente ou não - mostra que vamos na mesma lenta toada da sociedade como um todo, engatinhando para sair da idade das trevas do preconceito".