sábado, julho 11, 2009

Dogwalker

" Este é o melhor emprego que tive, até agora na vida". O entusiasmo de André contrastava com o rosto sizudo de Luiz, seu colega cuidador de cães. Entre uma das muitas paradas para os respectivos xixis dos quatro cachorrinhos, dois pra cada um, ele exaltava as qualidades da atividade, durante o passeio matinal pelas ruas do Morumbi.
Babá de cachorro. Uma profissão que cresce. Basta dar uma voltinha pelos bairros, que a gente vê dezenas deles espalhados pelas movimentadas ruas da capital. Qualquer dia deverá ser regulamentada. Não é a toa que já andam reiventando o nome. Dogwalker!
"Procuro dogwalker, para passear com cadela rotweiller adulta ( mansa e adestrada) e dois cães RSD (?) ." Diz um anúncio no Estadão de hoje. Entre vários: "Seu cãezinho está entediado? Não tem tempo de passear com ele? Procure-nos." "Tenho segundo grau, curso de informática. Me ofereço pra ser dogwalker". Nestas alturas do campeonato, não duvide se, brevemente, veremos cãezinhos entendidos em internet, procurando amigos no orkut.
"Ôôôô... não falei meu, o mercado tá inchando", disse André ao ser informado da qualificação dos concorrentes. Segundo ele, todos os dias da semana, com exceção do domingo, passeia com os bichinhos, durante duas horas. De manhã, com dois poodles. À tarde, dois labradores e uma pitbul. "Por incrível que pareça, estes pequeninhos são os mais endiabrados", revela. "E eu adoro cachorro."
Outra vantagem, segundo André, é que ele não precisa nem pegar ônibus pra ir ao emprego. De sua casa, em Paraisópolis, até o Morumbi e seus "clientes", são dois quarteirões. Até o material de trabalho - saquinhos plásticos e papel toalha e serragem, pra quando os animaizinhos estiverem com algum problema intestinal - é responsabilidade dos donos dos animais. O salário é o mínimo.
"Pois é, cara, e com tudo isso à sua disposição, você não recolhe os cocos dos totozinhos. Não adianta negar, que eu vi. Você terá que me acompanhar à dp, pro registro. Sou o agente Luiz Henrique". O flagra foi dado em voz baixa, mas chamou a atenção do pessoal próximo aos dois. Fixada em 2001, a lei municipal 13.131 estipula uma multa de R$ 10 para quem não recolher das ruas as fezes de animal.
Ossos do ofício. De Sampa. E dos Dogwalker. André não cumpriu os preceitos. Luiz, policial militar há mais de 15 anos, fingia exercer a profissão de André. Há exatos três dias. A intenção, identificar marginais conhecidos na área, que assaltam com frequência transeuntes e motoristas.