quarta-feira, janeiro 02, 2008

O ano da unidade


O que parecia possível, finalmente aconteceu: o bugui atolou. E justamente neste local da praia, mais deserta do que no Saahra. Apesar da madrugada de ano novo...


Acelerar pra frente. Não deu. De ré, não deu. O jeito é enfrentar a areia. Fazer o quê. O salto já tá tirado há horas, mesmo. Pulseiras, anéis, colares, tudo pro porta luvas. E então, vamos cavar, decretou Luciana... E lá foi ela, enfrentar o primeiro obstáculo de 2008. Mas tendo a lua como testemunha e o barulho gostoso do mar....
Quase no fim da operação, eis que houve uma voz solidária. (Ou será o reflexo de duas champanhes, uma delas, ainda encostada no banco do carro)?
Posso te ajudar?
Claro! Vamos ver se agora dá pra arrancar. Vou acelerar de leve e... ah, eu sabia que ia dar certo. Já me aconteceu várias vezes. Sempre dá 10 à zero pra mim... Falou, entusiasmada uma de repente feliz Luciana! Vou parar mais em frente. Acho que você deve fazer o mesmo, apesar do teu 4 por 4. De qualquer forma, obrigada pela boa intenção.
Pela beca, vestido de seda vermelho, deixando transparecer a alça de um sutiã rendado, também em vermelho, em tom mais claro, a maquiagem ainda inteirinha, a pele rosada, que a base escura não conseguia esconder um queimado de sol recente... E o perfume de Dune no ar... (Luciana tinha a impressão de que já tinha visto esta cena, em algum tempo...).
Pelo jeito, você também teve o seu final de ano roubado? Peguntou Luciana, depois de parar o bugui.
Até que não. Foi muito legal. Tô vindo da Prainha. A gente escolheu Fortaleza, pra passar o ano novo. Não sei se foi pela energia ou a beleza natural desta cidade... Acho que deu bingo!
Legal. Eu vim pra passar umas férias e tô por aqui há quase 6 anos! Você quer? (Ângela tomou um gole da champanhe, na garrafa.Até aqui, Luciana ainda não sabia o nome da turista. E nem ia ficar sabendo...) E continuou o papo. O mais difícil nestas bandas é criar raízes... As pessoas daqui fazem uma festa quando te conhecem, te abrem as portas das suas casas, te apresentam à todos os seus amigos, mas sempre há uma capa de artificialismo nas relações.
Nossa, será devido a preocupação comercial cultural do asiático... Pelo que sei, aqui predomina a origem árabe. Mas você tá decepcionada, ou há algo mais?
Não, tá tudo muito legal... Você apareceu, antes do previsto...
Desculpe, eu não me contive. Desde às nove da noite, comecei a contar os minutos. Sentia uma angústia muito grande. Parecia que você estava em perigo... A era transacional terminou nesta noite. Entramos no fator um. Você lembra da previsão?
Antes que Luciana respondesse, um triciclo da Polícia Militar, que faz a ronda da praia, parou junto à elas e um dos policiais perguntou se precisavam de ajuda, alertando para o perigo na área. Elas se levantaram. Se beijaram e cada uma pegou o seu carro, desejando-se antes, um feliz ano novo!