quarta-feira, dezembro 23, 2009

"Eu te darei o céu, meu bem..."

"Eu te darei o céu, meu bem e o meu amor também", vinha ele cantando em altos brados.
Tudo normal, se não fosse no meio do trânsito da lotada avenida Giovanni Gronchi, pilotando uma potente moto, carregada de pacotes.

Até, pro sempre comportado povo paulistano, que tenta ignorar qualquer ato incomum de um ser humano, a atitude astral do cara, não conseguiu passar despercebida. E quase todos que estavam próximos de mim, na calçada, riram satisfeitos e solidários. Não aguentei e bati palmas.

Será o Natal? Pensei. Pensei e ao mesmo tempo tentei imaginar, o que teria acontecido ao motoqueiro, pra quebrar as regras e externar alegria, em pleno trânsito caótico. Dinheiro extra? Uma promoção? Um presente especial? Um novo amor?

Ou seria o contrário? A falta de grana... Quem sabe um pai de família, endividado, e que além das inúmeras dificuldades pra criar os filhos, pagar escolas, botar comida na mesa, ainda tinha que descobrir uma saída honesta pra comprar presentes, nestes tempos consumistas? Cantar pode ser uma válvula de escape. Aos berros, a terapia fica melhor ainda.

Não. Se ele estivesse deprimido, iria descolar um outro repertório robertiano, tipo "eu prefiro as curvas, da estrada de Santos..." ou "além do horizonte deve ter..." ou, "lady Laura, me leve pra casa..."

Não! Nunquinha. Meu entusiasmado coração natalino-família-escorpiano-tigre, em véspera de grandes e históricas transformações anuais, confirma que o motoqueiro cantava mesmo era de felicidade!