segunda-feira, novembro 16, 2009

O duro colorido ofício!

Durante a semana é um trânsito maluco de carros. No finde a coisa muda. Um trânsito maluco de carros e... publicidade ambulante!

Como em Sampa é proibida a exposição de placas de propaganda nas ruas da cidade, sobrou pro lado escravagista do capitalismo. O que significa centenas de homens e mulheres circulando pelas avenidas, vestidos com grandes placas indicativas de lançamentos imobiliários.

Por enquanto, o marketing vivo é das construtores de imóveis. O morumbi é farto disso. Pra desespero ecológico e dos moradores que veem os poucos espaços de graminhas reduzirem lightimente os recantos verdes do bairro.


Cada sábado e domingo - época natalina aumenta - forma-se aquela praia colorida de bandeiras, balões e perucas vermelhas, azuis, laranjas, verdes. Conforme as cores das construtoras. "Três dormitórios, duas vagas". É o texto da vez. Em grandes letras. Nas placas menores, prevalece o item mais importante, nestes tempos de guerra por espaços. "Duas ou 3 vagas" .


Foi numa esquina, quase levantando voo, de tanto balão preso nos ombros, que encontrei Carlos Andrade. Um garoto que parece mais com jogador de basquete do que modelo de placa. A altura leva vantagem na hora do recrutamento. Por razões óbvias. "Eles gostam, mas não se ganha mais por isto", fez questão de ressaltar, em resposta a pergunta.


Com 17 anos, ainda no oitavo ano do primeiro grau, ele ganha a vida com bicos. "Ninguém assina carteira ao de menor", afirma. A dária de trabalho para um placa-viva é de R$ 45. Mais a passagem de ônibus. Começa às 8 e meia e termina às 6 e meia da tarde. Folga, só pra fazer xixi. E quando estiver muito apertado. "Me viro com sanduíche, que trago de casa e como aqui mesmo".


Carlos não reclama. "Acho bom. São quase uns centinhos, só no final de semana, meu".


Durante a semana, ele só estuda. Filho do meio de três irmãos, ele diz que não ajuda em casa, porque o salário de segurança do pai " dá pra viver".


O que não acontece com Amanda Cruz, sua colega, de 15 anos. Ela afirma que mais da metade do que ganha no sábado e domingo, vai pra alimentação da casa. "Queria poder encontrar um emprego legal, que pudesse ganhar mais, mas é dífícil pra mim". Órfã de mãe, Amanda é responsável pela casa, a alimentação e o cuidado com os irmãos menores, durante a semana, além de estudar à noite.


"Ei, acho que este senhor da Pajero quer a minha informação", desculpou-se para atender o cara, que a chamou. Se o comprador der o nome de alguém que o indicou para o local, ganha um presente do corretor.


Não foi desta vez. Dá pra ver no rosto de Amanda, ao retornar ao seu local de trabalho. "Puxa, ele só queria o meu telefone pra combinar de sair mais tarde", disse tentando esconder a decepção e não desanimar na injusta luta pela guerra da sobrevivência.