quarta-feira, agosto 06, 2008

Uma menina. E seu destino

Edneide, a menina que aluga raquete pra jogar frescobol com turistas na praia, cansou do tranco e tá procurando emprego "decente." Foi o que ela disse à um parceiro mineiro, no momento em que ele pagava os 5 reais, por duas horas de jogo. "Não dá mais esta vida, tenho quatro filhos pra dá de comê", respondeu ao moço.
Edneide - cujo nome junta o Edvaldo do pai e a Neide da mãe - era pra ser uma menina rica. Aos cinco meses tinha sido vendida à um casal de empresários italianos por 4 mil dólares. Fora retirada dos braços ou entregue pela própria mãe, à uma quadrilha de comerciantes de crianças, que agia com desenvoltura, no Ceará e Nordeste, desde os anos 80.
Viveu em Milão, até os dois anos, com toda a atenção de filha única. Na ocasião, a equipe de uma emissora sensacionalista de tv a cabo, italiana, descobriu a comercialização. Financiou as passagens de ida e volta dos pais de Edneide, deu o flagrante no casal e já na mesma semana, os três estavam de volta à Fortaleza. Com alguns presentes, incluíndo uma ajuda de mil e 500 dólares doados pela rede de tv.
Edneide hoje, está com cerca de 30 anos. Que mais parecem 60. Tem um sorriso triste, emoldurado por poucos dentes. Dois deles, perdidos após um das várias surras do pai, bêbado e desempregado.
Depois de alguns anos, ela saiu de casa. Já com dois filhos. De pais desconhecidos. Não fala com ele. Nem com a mãe. Neide diz que não quer ver a filha. "Nem pintada de ouro". Edneide acha que é ciúme do pai. Ela tem esperança de "fazer as pazes com a mãe", afirma com os olhos marejados.
A Praia do Futuro começa a escurecer. E esvaziar. Edneide, que já tomou o seu banho em uma das duchas destinadas aos banhistas, na parte de fora da barraca, passa o batom vermelho da Natura, que ela comprou de uma amiga.
Está feliz. Com os 5, vai conseguir levar pão e leite pros dois filhos, de três e quatro anos, que moram em um barraco de duas peças, quase no centro da cidade. Os outros dois mais velhos, moram na rua. Vai ter que ir a pé, porque a grana não vai dar pro ônibus.
Edneide, que mal sabe ler, já fez bico de tudo. Agora ela sonha em ser diarista.