segunda-feira, dezembro 22, 2008

Sapatos... Tênis... Sandálias...

Ao invés de bombas. Sapatos. Ao invés de atos terroristas. Sapatos. Ao invés de tiros. Sapatos. Ao invés de comícios. Sapatos. Serve tênis, sandálias... É bom evitar as de salto agulha...

Fáceis de passar pelo bloqueio de seguranças. Fáceis de atingir o alvo. Fáceis de serem carregados. Não mata. Não destrói. Pode provocar ferimentos leves. Em quem sofre o ataque. E em quem está por perto, dependendo da higiene do protestante. O efeito letal é o vexame. De ser filmado e fotografado em pose patética, diante da tentativa de se livrar da sapatada. Que humilhação! Cena que será perenemente registrada para a história mundial.

Agora que descobrimos que o sapato pode ser o meio e a mensagem, políticos, mandatários de governo, salve-se quem puder, das sapatadas! Tenisadas! Sandaliadas!

A mensagem chegou um pouco tarde. Senão, no final deste ano, estaríamos também passando por uma séria crise mundial de calçados, se todas as autoridades políticas, judiciárias, policiais e religiosas levassem sapatados a cada declaração insana, cínica, injusta, mentirosa e arrogante que praticaram em 2008.

Hugo Cala-te Chaves. Na maioria das vezes em que abriu a boca. O presidente cubano Raul Panaca Castro, ao dizer quem em Cuba os direitos humanos são respeitados. O presidente chinês, Ching Não Shei das Quantas, pelo mesmo motivo. O papa Bento Inquisidor Preconceito Insistente Sexto, que não se cansa de incitar os religiosos de sua igreja contra os gays. A última dele, foi a de cassar os homossexuais, por não fazerem parte da cadeia ( sic!) criacionista.... Não é preciso nem entender de biologia, pra saber que o homossexualismo é comum em animais, tem explicação evolucionista e portanto, é parte integrante, da "linguagem da criação", a qual ele se refere. Ah, deve estar falando da historinha de Adão e Eva...

O presidente francês Sarkozy Cruel, foi outro sério candidato à sapatadas, tenisadas, sandaliadas. Por permitir às grandes empresas de produção de foie gras de seus país, a forma cruel de super alimentar os patos, através de máquinas introduzidas diretamente no fígado do animal, pra deixar seus fígados gordalhões. Um patezinho desta iguaria com pão e um vinhozinho... até que é mara! Mas não com tortura. Tortura não pooooode! Seria um sofrimento à menos aos animaizinhos, antes de serem devorados nas mesas sofisticadas.

O secretário de saúde do prefeito César Maia, do Rio, é outro que escapou. Ao ser indagagado se o turismo da cidade seria diminuído em função da epidemia de dengue, teve a cara de pau de negar, afirmando que a doença só atingia os moradores da zona norte carioca... O presidente do Congresso e do Senado, Garibaldi Despudorado Alves também merecia uma sapatada voadora. Por ter agido na calada da noite, quando todos os gatos são pardos e colocado em votação - e aprovando - com os demais senadores, o projeto que cria mais de sete mil e 300 vereadores no país! Ou seja, em plena ameaça de recessão, nada mau gastar dinheiro público!

Sapatilha rosa e com lantejoulas, pra ficar mais provocativo. E na careca! Seria o presente de Natal perfeito para o presidente do Fluminense, Roberto Hilário Horcades. Ao apresentar o novo treinador de seu time, demonstrou toda a potência intelectual, afirmando que o técnico conseguiu fazer com que as mulheres da seleção brasileira, com dois neurônios, chegassem a vice-campeãs mundiais... Será que ele tem neurônio?

Tem mais. Ah, muito mais. A lista é grande. E eu já enchi o saco! Aliás, vou ver se a sandália que pedi ao Papai Noel já está embaixo da árvore...

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Identidade preservada

Edilane Ferreira Vintelli. É o nome dela. Tem 26 anos. Cearense de Ubajara. Onde está situado o menor parque nacional do Brasil, segundo a entidade de turismo do estado. Região de grutas e cavernas. E terra de sua mais famosa conterrânea, Florilda Bulcão. Ou Bolkan, pros nativos esnobes. Mesmo sem saber da real história de vida de Florinda, seguiu trajetória parecida.
Edilane veio parar em Fortaleza, aos 17 anos, por força das circunstâncias existenciais. Dela. Noiva, desde os 17 anos, sentia arrepios em ter que viver igual a sua mãe. Roceira e cheia de "cria". Com a licença de garantir um batonzinho vermelho, no final de semana, no forró da Baixa.
Numa segunda-feira, propôs se mandar pra capital, com o futuro marido. Ele topou. Às quatro e cinco da manhã. Ao invés do caminhão coletivo que os levariam à capina, eles tomariam o rumo da estrada. O noivo amarelou. Edilane foi em frente. Apostou na rima. Pegou carona num caminhão diferente. Com placa do sul.
Ao contrário do previsível, ela não foi "bulida", como diz o matuto cearês. O motorista foi legal. Deixou Edilane na entrada da cidade. E ainda lhe deu cinco reais. Com os 40, do trabalho semanal, dava pra aguentar, até ela encontrar um novo trabalho. Pegou outra carona. Com um ciclista, segurança de um prédio em construção, na praia de Iracema.
Lá se enturmou. Aprendeu a fazer colar, com um artesão amazonense. Se apaixonou por um vendedor de picolé, que trabalhava na Praia do Futuro. Virou figurinha fácil do pedaço. Conheceu um italiano. Se mandou pra Florença com o gringo. Casou. De aliança e tudo.
Quem diria! Aquela canelau, feito cão chupando manga, cabelo enroladinho, voz miúda, cheia de gastura, arrudiô... Virou quase um mulherão! Comentava o antigo vendedor de coco da região. Nariz empinado, dona de si, tipo "tô pagaaano!" - ela exibia, ontem, seu lay-out de primeira-dama, na barraca mais chique da praia. Cabelão loirão, unhas bem tratadas, bundão siliconado!
- Fala mulher! Como foi que você fez isso? - Era a mulher do dono da barraca. Várias vezes a tinha expulsado da área, por vender doces caramelados, quatro reais mais baratos que os do restaurante. - Vaaaaaalha-me deus, não é que ficou bom! - exclamou a fisioteraupeta, assim que se desvencilhou do cliente, correndo pra perto da dona do pedaço.
Vai e vem, a mulherada, que já formava um grupo, acabou levando Edilane pra toalete. - Doeu? Quantos milímetros? Tá durinho mesmo... Quanto tempo de bunda pra cima? Quanto você pagou? Pera aí, que vou buscar o meu marido. Ele tem que ver isto... Ele pode apalpar? Não se preocupe, eu confio nele, disse antes de sair agarrada com o dito, levando o cartão do cirurgião italiano.
De volta à mesa, Edilane decidiu que não sentaria mais. Pelo menos, até concluir o registro definitivo de sua identidade brasileira.