tag:blogger.com,1999:blog-324125282024-03-05T05:13:00.903-03:00Minha PraiaCom muito sol. Vento forte. Própria pra surfar. Em qualquer material. Visão ampla. Além do horizonte... No pensamento. Na caminhada. Na calçada estilizada. Na espuma da rua. Em plena avenida. De frente pra vida. De papo pro ar. Muito "causo real contado". Venha navegar nesta praia. Conversando sobre a vida.Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.comBlogger95125tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-73690376034434885912011-08-30T18:34:00.001-03:002013-01-06T21:21:10.212-03:00Ossos do ofício<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTRThgfR78a_aRDIJVILQn7MJM3AbRIq_qICW37b0CeUiXEbwg6hJNE8v4g38yT8K1KVWcJkjq7-HqmWmPSofeSZYitbvsrTWuJvEEMF1t52nyeU_2_SlRUXL7hQUmL9o31yOQfw/s1600/travesti.bmp" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTRThgfR78a_aRDIJVILQn7MJM3AbRIq_qICW37b0CeUiXEbwg6hJNE8v4g38yT8K1KVWcJkjq7-HqmWmPSofeSZYitbvsrTWuJvEEMF1t52nyeU_2_SlRUXL7hQUmL9o31yOQfw/s200/travesti.bmp" width="150" /></a> "Puta também tem frio, mas são os ossos do ofício", disse ela, em alto volume, paramentada, no seu ponto de sempre e encostada em um carro estacionado, no meio do trânsito louco da avenida Ibirapuera.
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A explicação bem humorada, rápida e direta, veio em função do meu espanto, ao vê-la com um minúsculo vestidinho preto, meia de lurex e rosto super maquilado, emoldurado pelo cabelãochapinhaloirão.
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Virgínia, fiquei sabendo seu nome de guerra, hoje, é um travesti de quase dois metros de altura, que já faz parte constante do meu percurso de 10 quilômetros de quase todas as manhãs. Às vezes, a vejo conversando com elegantes senhores, geralmente de carros importados, combinando preço de programa. Deve ser em conta, porque quase sempre ela embarca.
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Às vezes, toma um chá de espera, quando o mercado tá fraco. Nestas ocasiões, ela caminha impacientemente de uma calçada a outra, encima de seu elegante salto. Agulha sim...
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"Mas como é que você não tá tremendo, com esta pouca roupa?" - aproveitei a deixa, recuando da corrida, mas saltitando, no mesmo lugar.
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"Ah, no fim, a gente acaba acostumando, bofe. É o meu trabalho... Imagine você se tiver que parar cada vez que faz frio em São Paulo?"
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Segundo Virgínia, um programa "completo" de quatro horas sai entre 400 a 500 reais. Se for verdade, a profissão é bem rentável. E quantos, geralmente ela faz por dia?
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"Dois, três, dependendo..." Na segunda tem mais clientes. "São os casados, que passam o final de semana na mesmice..."
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Entre os clientes, Virgínia garante atender muito empresário machão. "Nem te conteiiiiiii, verdadeiras femiazinhas na cama". E jogadores de futebol. "Tem um craque do Coríntians, mas ... depois te conto, deixa eu atender este bofe que tá parando..."
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Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-9561524305415366252011-08-01T15:44:00.005-03:002011-09-08T18:25:23.741-03:00Lembrando a virtude do ócio<p>Dez horas da manhã, de uma segunda-feira gris, de cara amarrada, início das aulas e da rotina apressada de São Paulo. No meio do para e anda da avenida Paulista, ouve-se um sonoro <span style="font-size:180%;">"anda ráááápido, vagabundo!"</span><span style="font-size:130%;"> </span>- de um apressado motorista. </p><br /><p>A vítima, um cara de outro planeta, um ciclista de bermuda e camiseta, em ritmo de férias. Não demorou minutos, o et emparelhou sua bike com o cara estressado, no sinal fechado. E disparou, sorrindo irônico um "pô cara, calma! Vai trabalhar! Trabalhar engrandece o ser humano! Quanto mais trabalho, mais virtude! Gera dinheiro e felicidade! Ocupa o tempo e não deixa você pensar em vícios ou o motivo de tanto trabalho..."</p><br /><p>Não sei o resto do bateboca, porque segui em frente na corrida diária, enaltecendo o meu "douce itinérant", ou no popular, doce vagabundagem... E de cara, me lembrei de uma crônica do jornalista Sérgio Augusto, sobre a arte de ficar á toa. Ele cita vários pensadores que se preocuparam em produzir e criar em cima do ócio, como Camus "são os ociosos que transformam o mundo, porque os outros não têm tempo algum". Sêneca, "a primeira prova de uma inteligência ordenada é poder parar e aquietar-se consigo mesmo". Montaigne: "entregar-se ao fecundo exercício de uma ociosidade inteligente e feliz" . Nietzshe: "quem não tem dois terços do dia para si é escravo." </p><br /><p>Já Platão e Aristóteles, se vivessem em Sampa, neste século, seriam castigados por tamanha ousadia de pensamentos e levariam uma surra de neosnazistas, na madrugada de um fim de semana, em plena Paulista. Para eles, trabalhar faz mal à saúde, degrada a alma e impede o homem de servir ao espírito, ao corpo é a polis. E ainda botariam um cartaz sobre seus corpos, com a frase que "decorava" os campos de concentrações : " o trabalho liberta !"</p><br /><p>O jornalista lembra que na Grécia antiga, os intelectuais desprezavam o trabalho, tarefa exclusiva dos escravos. Pra deleite da galera, passavam o tempo praticando exercícios físicos, jogos de inteligência e contemplando a vida. </p><br /><p>"Mas a moral cristã estragou tudo, santificando o batente (ganharás o pão com o suor de seu rosto) e transformando a preguiça em pecado capital", afirma Augusto, ressaltando o que diz a Bíblia, ter o deus dos cristãos descansado eternamente no sétimo dia.</p><br /><br /><br /><br /><p></p>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-60501940139511344342011-07-11T17:56:00.001-03:002011-07-19T21:40:56.915-03:00Coisas que as pessoas deixam pelo caminho...<div align="justify"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-0g95BMSAkc4/Th-ohrx_ZLI/AAAAAAAAAQk/cTpXjDk-Cy8/s1600/Imagem0531.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 150px; FLOAT: left; HEIGHT: 200px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5629403355877958834" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/-0g95BMSAkc4/Th-ohrx_ZLI/AAAAAAAAAQk/cTpXjDk-Cy8/s200/Imagem0531.jpg" /></a> Não dava pra não ver. Eram muitos. Vários pedacinhos de fotos recortadas, espalhadas pela calçada da avenida Ibirapuera, que se misturavam entre carros e pessoas, na preguiçosa manhã desta segunda-feira.<br /></div><br /><p align="justify">Dia friiiiio, pra rachar, pele, ossos, corações e o escambau que resta do corpo teimoso de quem vive em São Paulo. O som alto de Winehouse no mp3 de Marga estava animadão. Ela seguiu metros adiante, mas a imagem dos olhos escuros e tranquilos, salientes no recorte maior da destruição fotográfica, não saia da sua mente. </p><br /><div align="justify"><br />Não resistiu. Retornou o rumo da corrida e começou a juntar nariz, faces, sobrancelhas, cabelos, olhos. Pra quê? Nem ela sabia...</div><br /><div align="justify"><br /></div><br /><p align="justify">"Foi hoje, bem cedinho, moça", informou o homem coberto com três cobertores rasgados e uma botina empoeirada, tipo pm. É o Tom. Quer dizer, Tom na cabeça de Marga, que nunca perguntou seu nome de verdade. E nem sequer trocou qualquer papo com ele. Suas interações se resumiam nos positivos dos polegares, todas as manhãs. </p><br /><div align="justify">Dono absoluto do pedaço, cruzamento com outras avenidas, escoamento pra várias regiões da cidade, Tom apelidado assim, devido a semelhança com o compositor Tom Zé, parece sobreviver dos trocados recebidos pelos motoristas. Apesar de tudo, é um cara alegre.</div><br /><div align="justify"><br /></div><br /><p align="justify">"Foi um carrão dum bacana, com um som a todo o volume, que espalhou as fotos rasgadas. Vai ver, foi traído pela gata", disse Tom, com um sorriso irônico de bom entendedor do assunto. "Mas, moça, me desculpe a intromissão... tu conhece a dona"?</p><br /><div align="justify">"...A-a-acccho que sim... Pelo olho... acho que sim". Marga tentou juntar três pedacinhos. Mas ainda insuficientes pra qualquer definição. </div><br /><div align="justify"><br /></div><br /><p align="justify">"Não tá ruim não, agora mesmo eu cato o resto, pela avenida. É só me dar unzinho pro pão e o leitinho das crianças... A minha do quentinho, eu já botei pra dentro..."</p><br /><div align="justify">"Não, não, nada disso! Afinal, pra quê, né?" </div><br /><div align="justify"><br /></div><br /><p align="justify">É, pra quê, concordou ele. "Não passam de papel. Dureza é a rua, moça!"</p><br /><div align="justify">Marga olhou os olhos dele, pela primeira vez, desde as passagens diárias por aquele cruzamento, jogou o restante das fotos ao vento e voltou ao seu rumo. Afinal, o mundo é bem maior do que as coisas que as pessoas deixam pelo caminho.</div><br /><div align="justify"><br /><br /><br /><br /></div><br /><p align="justify"><br /><br /></p><br /><br /><br /><br /><br /><br /><p></p><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><p><br /><br /></p>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-48731613939697382432011-07-05T14:06:00.005-03:002013-01-06T21:50:00.334-03:00Sandra e Letícia<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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<a href="http://4.bp.blogspot.com/-R233PfaQjPs/ThNr50qrAQI/AAAAAAAAAQc/7BECzUkviUY/s1600/Imagem0479.jpg"></a><br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGJJ6j4qiiwoVUEToLuMkY4FuZiKa5oJmFx7oqbgKsPhF04W67vt1uDdvRCiu__9LfW2ePgN7k_-LR78ZAvdTFaaPDvODyhWV-CpAmK7Pl29yj9x8ymer2nSkGIEJk5_bF7GOqVQ/s1600/Imagem0479.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGJJ6j4qiiwoVUEToLuMkY4FuZiKa5oJmFx7oqbgKsPhF04W67vt1uDdvRCiu__9LfW2ePgN7k_-LR78ZAvdTFaaPDvODyhWV-CpAmK7Pl29yj9x8ymer2nSkGIEJk5_bF7GOqVQ/s200/Imagem0479.jpg" width="150" /></a></div>
A manhã era de sol. Amena. Típica dos verânicosoutonos de Porto Alegre. Benvinda, depois de um verão escaldante e sufocante. Como em todos os verões portoalegrenses. Mas o interior da gente era frio. Muito frio! Contrastando com a conformidade diante das vidas que se apagam. Um cinza indescritível, como se fosse uma imensa ressaca, após grandes momentos de alegria e felicidade. Tempos que marcaram os encontros de família.<br />
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Já não somos muitos. Como fomos um dia. Pai, mãe, irmãos, cunhados. O tempo foi minando seus alvos. Como num impotente videogame de peças marcadas.<br />
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"No primeiro banco em frente ao gasômetro... aquele mesmo..." Foi a senha do telefonema. Mensagem comunicada na tentativa de um tom de voz normal, para o encontro da derradeira despedida de uma energia pulsante, jovem e ativa.<br />
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Aquele mesmo. De sete anos antes. Num dia de primavera. Novembro. De sinistros marcantes. Emoção à flor da pele. E uma dor indescritível roendo pelo corpo inteiro. A escolha da pedra, adiante da margem do rio Guaíba.<br />
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Rio, que passava na frente de sua casa e que foi uma das primeiras paixões da criança linda e esperta. Cenário do início de uma vida baseada na generosidade, determinação, amor e ética. Paixão fiel. Mesmo que o destino a tenha levado pra lugares nem tão distantes, mas imennnnnnnsamente longe, na visão de quem ama a sua terra.<br />
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Respeitando sua vontade. Como ela profetizava. Suas cinzas jogadas sobre o Guaíba.<br />
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Entre risos e lágrimas, cumprimos a sua dolorosa determinação. Ficaram as lembranças de uma irmã, mãe, mulher inesquescível. No ar... E nas roupas, que o vento soberano tratou de nos deixar como um último legado de entranhas de amor.<br />
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A foto fala por si. Com a mesma emoção, espalhamos as cinzas, no exato local da despedida de quem deu a vida à menina, linda, diferente, incompreendida pela ignorância de alguns, mas amada por muitos que lhe foram íntimos.<br />
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Acho que era início da tarde, de um dia de maio, de 2011. Se não me engano, sábado. A vida continuava seu rumo. Adultos, crianças e bicicletas, sons que se misturavam alegremente no parque. </div>
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Sentamos, nós quatro, em um outro banco qualquer, na frente de um quiosque qualquer. A necessidade de água, indicava que ainda tínhamos vida. Olhamos em frente. Ao lado, um grupo de pagodeiros cantava feliz.</div>
Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-44283719472796161442011-06-14T15:29:00.004-03:002013-01-07T16:34:19.041-03:00Folclóricos fanáticos<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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<a href="http://3.bp.blogspot.com/-l8OaVJO2pHA/Tff54FOJ3wI/AAAAAAAAAQU/lQtz1sqH2N8/s1600/palha%25C3%25A7o%2Bcag%25C3%25A3o.jpg"></a><br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHCBRRz4JHiIgvVp073mS-5qJF3tI61rMxGyPHs_r6V_Mj9DLDDMBJV1Fm6JEesX6qGP8Bc4BipmLJFdDfBGn1Ouo04knBiASLJ87uNcKklMJ2L68nxaYOG5RVoJmZsMkbsbLJ9g/s1600/palha%C3%A7o+2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHCBRRz4JHiIgvVp073mS-5qJF3tI61rMxGyPHs_r6V_Mj9DLDDMBJV1Fm6JEesX6qGP8Bc4BipmLJFdDfBGn1Ouo04knBiASLJ87uNcKklMJ2L68nxaYOG5RVoJmZsMkbsbLJ9g/s200/palha%C3%A7o+2.jpg" width="200" /></a></div>
Bonito. Bem vestido. Perfumado. Ele fechou o livro. Colocou-o na bolsa bem transada. E desceu na estação paulista do metrô, sem olhar para os lados. Mas chamou a atenção.<br />
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"O pior de tudo é que a bicha acha que é homem", disse, em tom de chacota, o cara sentado na minha frente, ao seu acompanhante, que aproveitou pra externar sua indignação diante de tanta "safadeza". </div>
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É óbvio, comentários deste tipo estão longe de ser novidade. Pessoas ignorantes também. Faz parte. Acostumamos a deixá-los nos seu lugares. É uma pena, mas esta grande parte podre da sociedade insiste em querer aparecer . Já faz um bom tempo que o circo da intolerância, conservadora ou não, teima em se apresentar, como se donos da razão fossem. </div>
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Fantasiados de papa, políticos, pastores, religiosos, lá vão eles atrás de ovelhas. Agem de tal forma, esperneiam de tudo que é jeito, falam tanta barbaridade que é impossível levá-los a sério. Mas ganham, cada vez mais, espaços nos jornais e tevês. Beiram ao folclórico.<br />
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Por não suportarem conviver com a diversidade, em todos os aspectos da sociedade, investem tudo, para defenderem o retrocesso. Acontece em vários países. Seja em movimentos organizados, como o ultraconservador Tea Party, nos Estados Unidos, a favor de políticas mais radicais em relação a imigração, religião, homossexuais e negros. Seja na eleição de políticos com perfis conservadores, como ocorre na europa. Seja em campanhas políticas, como se viu no país, no ano passado, e não necessariamente conservadoras, com a preponderância assumida por valores religiosos católicos e evangélicos, contrários a legalização do aborto e a união homoafetiva. </div>
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Pessoas tem o direito de pensar como querem. Podem ter suas próprias noções religiosas e morais sobre qualquer assunto. No caso da xenofobia e homossexualidade, a questão não é sobre opiniões pessoais. É sobre o direito de existir como pessoa, de poder andar tranquilamente pelas ruas, sem medo de ser agredido.</div>
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O caminho da cidadania e a construção de uma ideologia realmente democrática e laica sobre as diversidades e a tolerância social ainda é longo. Um dia se chega ao destino. A lei do divórcio está ai pra confirmar. Foi uma batalha árdua, no congresso. De anos. Se não me engano, mais de 25! Senhoras recatadas desmaiavam com a bíblia na mão. "O que deus uniu, não pode ser desfeito." Levavam cartazes, senhores bem vestidos. Padres e pastores rezavam. </div>
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Beiravam ao folclórico. Ficaram nos seu lugares.<br />
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Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-67919112644224986052011-05-30T16:00:00.004-03:002013-01-07T16:26:55.133-03:00Biólogos crentes? Ou carentes?<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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De longe, ele já havia chamado a minha atenção. Baixinho. Magrinho. Cabelos lisos, quase todos brancos. Roupas clássicas e cores escuras. Bem comportadas. Boca pequena, sempre sorrindo. Olhos rasgados de oriental. Uma simpática figura, lembrando muito um estranho cientista, desses tão comuns nos filmes de Spilberg. - "Por favor, eu posso fazer uma pergunta à você?" </div>
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A pergunta era mesmo pra mim. Parei a corrida, um tanto contrariada.</div>
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"Tudo bem!" - respondi, pensando tratar-se de algo relativo a localização de uma rua. "- Qual a sua religião?" </div>
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"Não tenho!"</div>
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"Mas é bom ter fé..."</div>
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"É. Eu tenho a minha."</div>
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"Mas, por que você...</div>
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"Xi, já passei desta fase. Até logo" - disse apressada, pra acabar com o assunto.</div>
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O japona levantando a voz e num tom de orgulho explícito disse: "vá com deus!"</div>
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O resto da corrida, fui matutando sobre as contradições de opiniões e crenças. Por exemplo, ciência e religião. Cara de cientista, missão de pregador! Quem poderia imaginar! De cara, me lembrei de uma entrevista que fiz com um conceituado biólogo americano, craque em biologia evolutiva. Futuyama ( é uma vergonha, mas esqueci do primeiro nome agora e apesar do sobrenome, não tem a coincidência oriental ) . Para ele, é possível aceitar a total evolução do mundo e ao mesmo tempo preservar crenças religiosas.</div>
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O ponto central da entrevista era sobre o ensino da biologia nas escolas. Como deve ser encarada a teoria da evolução, uma verdade absoluta para a ciência, se há tantos professores religiosos da matéria? Como alguém pode ensinar ciências sem acreditar na teoria de Darwin? Na ocasião, eu havia citado um fato, acontecido numa discussão de mesa de bar, certa vez, com um amigo meu, estudante de biologia, já no terceiro ano, que tinha declarado entender a teoria como verdade científica, mas não gostava de falar muito sobre o assunto. </div>
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Segundo Futuyama, a saída politicamente correta e menos angustiante em favor dos profissionais religiosos e do ensino das ciências é fugir da dualidade. Pra ele, se houver uma imposição entre crença e ciência, as pessoas vão optar pela primeira, devido a satisfação emocional. Ou seja, cá pra nós, o popular, me engana que eu gosto. </div>
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Então, se for pra ver as pessoas felizes, como parecia o japa simpático, fiquem com deus e não se fala mais nisso!</div>
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Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-6592742441560904722010-10-16T17:40:00.004-03:002010-10-16T19:43:23.872-03:00As curas do doutor Fréderick<p align="justify">Fazia tempo que Norma sentia estranhos arrepios pelo corpo. Como uma febre repentina, que surgia especialmente quando tirava a roupa pra dormir, ou na hora em que ia tomar banho.</p><p align="justify">No princípio, achou que fosse uma gripe mal curada, querendo dar o ar de sua graça, no momento em que deixava o corpo exposto ao frio. Preocupada ao extremo com sua saúde, não demorou na visita ao médico. Poderia ser um princípio de pneumonia, imaginou angustiada.</p><p align="justify">Após recomendações de tirar a febre de hora em hora, durante 20 dias seguidos, tranquilizou-se, pois a temperatura se mantinha nos 36,8 graus. Mesmo assim insistiu em fazer alguns exames, ainda que a contragosto do doutor.</p><p align="justify">Nada? Nada mesmo?</p><p align="justify">Nada. "Sua saúde está perfeita, como sempre. O que a senhora precisa é cuidar mais de sua cabeça."</p><p align="justify">Nada. Norma não entendia por que os calafrios continuavam. "Parece uma mão muito quente, percorrendo minhas costas", disse ela ao marido que, acostumado com as constantes queixas de dores no corpo ou seguido mal estar, lhe recomendou um centro espírita. Mesmo sabendo que poderia ser execrado pela atitude, devido a extrema religiosidade de sua mulher.</p><p align="justify">"Virgem Maria! Deus nos salve! Não fale nunca mais nestas coisas do diabo, Horácio!"</p><p align="justify">Uma semana... Duas... Norma seguia a sua vida de mãe e dona de casa perfeita. Agora com novos ingredientes, além dos terços e temperos. Os calafrios evoluíram pra visões. Homens, mulheres, crianças com aventais brancos... nãããoo... dava pra distinguir bem. Mas ela sabia que alguma coisa a perturbava. Até algumas vozes, chegou a ouvir. Procurou a ajuda de uma amiga psiquiatra.</p><p align="justify">"Pela psiquiatria, quando alguém fala com pessoas que apenas ela vê, significa algum tipo de esquizofrenia", disse ela. "Agora, se você vê pessoas que existem, pode ser uma percepção sensorial, ou seja, seus olhos receberam estímulos do ambiente, que foi convertido em código, como se fossem sinais elétricos, para que o cérebro possa interpretar como uma presença naquele ambiente."</p><p align="justify">Ao invés de esclarecer, Norma se confundiu mais com a explicação da amiga. Resolveu relaxar. Chegou em casa, preparou um chá. Pegou uma revista. Que nem abriu. Mudou de idéia. Decidiu escrever. A mão deslizou, quase sem controle.</p><p align="justify">"O amor verdadeiro não morre. Só quem já sentiu um dia este sentimento, sabe do que estou falando. Tive várias mulheres, mas só amei uma, em segredo, separada pelo destino. Preciso agora reparar o meu erro e doar-me o máximo possível, para salvar as pessoas enfermas do coração. My name é Fréderick August Johnson. Sou um médico psiquiatra inglês, desencarnado em outrubro de 1976. Preciso de sua colaboração, para espalhar amor pela terra. Até mais."</p><p align="justify">O barulho da chave do marido, ao abrir a porta da casa, horas depois, fez Norma despertar do estado de letargia em que se encontrava. Sentiu uma estranha alegria e pensou em dividir o sentimento com o companheiro. Mas achou prudente silenciar. Pelo menos naquele momento. rasgou a folha do caderno, rapidamente. E o colocou no bolso da calça jeans.</p><p align="justify">Não dormiu a noite toda. Não conseguia esquecer a revelação. Pela sua crença, sempre admitiu a vida após a morte. Por quatro vezxes foi ao banheiro, com o bilhete na mão. Não, não foi o bom português do médico que lhe deixou intrigada - "espíritos devem ser poliglotas" - se conformou, mas sim, o ano da morte. Aquela data lhe dizia alguma coisa, que ela não conseguia descobrir, no momento. O que fazer agora?</p><p align="justify">"Você é médium! Sempre soube disso", gritou pelo telefone, Yolanda, a amiga espírita, com quem não falava há anos. Recém havia servido o café da manhã, como mandava o figurino, os três sucos de laranjas frescas, feitos na hora e as torradas quentinhas, de todo dia, para o marido e os dois filhos rapazes.</p><p align="justify">Se arrumou e saiu apressada pra casa de Yolanda. De lá, pro centro esotérico, conhecido da amiga. Mais uma sessão e Norma acabou descobrindo, através de outros médiuns presentes, que Fréderick August Johnson foi grande médico inglês, que fez sua vida na Argentina e curou inúmeros pacientes de câncer. Isto no século dezzzz...oi...to. "Mas por que ele me comunicou ter morrido em 1976?" - cobrou indignada, já íntima do doutor.</p><p align="justify">"Pode ter havido um ruído de comunicação. Isto é normal no primeiro contato com espíritos desencarnados", revelou a amiga. "Neste ano... e... mês... pensou com seus botões e quase não querendo pensar, foi a morte do Guto, o0 seu vizinho bonitão, pelo qual sentia enorme atração. Mas isto, Norma guardou pra si. Se sentia envergonhada e embaraçada ao misturar sexo com coisas sagradas.</p><p align="justify">Dúvidas à parte, Norma ia vivendo com seu destino, ou melhor, com seu companheiro espiritual, o marido e os filhos, na mais santa paz e felcicidade. Nunca havia se sentido tão bem, nos seus quase 50 anos de vida. olhos brilhantes, sorrisos constantes. O bem estar era notado por todos, que perguntavam o motivo de tanta mudança.</p><p align="justify">"Segredo", respondia sorrindo.</p><p align="justify">"Não fale a ninguém, que você se comunica comigo", foi o pedido feito um dia, por seu psicografado. O encanto pode quebrar, ninguém vai entender e o contato falhar."</p><p align="justify">"Deeeeus me livre disso", falou Norma baixinho, quase em tom de suspiro, enquanto se preparava pra tomar o terceiro banho do dia. Era nestes momentos que se sentia no auge. Uma espécie de catarse divina. A energia que tanto a incomodava em outro tempo, percorrer livre, leve e solta, por suas entranhas.</p><p align="justify">"O verdadeiro encontro de alma e espírito," dizia a mais recente cantada, oops, psicografia do doutor Fréderick August Johnson.</p><p> </p><p> </p>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-88823227981615935442010-09-28T17:47:00.007-03:002010-10-09T14:50:44.582-03:00Arrastão da imprensa!<div align="justify">Ah, liberdade! Quantos crimes se cometem em teu nome...</div><div align="justify">Exalando ódio por todos os lados, os jornalões e tevesonas brasileiras, comandada por tradicionais famílias e incomodada com a extensão paritária do orçamento do governo para a publicidade, resolveu bombardear o bom senso de vez!</div><div align="justify">Num ataque de histerismo e fúria perdeu as estribeiras a ética, a vergonha e elegância. Apelou pra panfletagem. </div><div align="justify">Que papelão! </div><div align="justify">Não querendo comparar, mas já comparando, num remoto passado, quando uma avalanche conservadora igual a esta ocorreu, tóiiiiim, o país sofreu um golpe de estado! Sob suspeita de instaurar uma república sindicalista e abrir terreno para o regime comunista... E por 25 anos vivemos na escuridão da censura!<br />Viva a liberdade! </div><div align="justify">Afinal, que mais querem os barões da mídia. Só em um país democrático, jornais podem ridicularizar e enfiar o dedo na cara do presidente da república. Chamá-lo de fascista. De bêbado. De analfabeto. De estuprador. De trapalhão. </div><div align="justify">Uns fanfarrões... </div><div align="justify">Se falam com um dirigente da nação desta forma, imagine como o fazem com o garçom, com a mãe, com o repórter?</div><div align="justify">Se acham. </div><div align="justify">Brincando de aitolás, inchados pelo poder de influênciar a opinião pública, apelam. E misturam política com religião. O corpo feminino, a sociedade pertence. Candidata que quer matar criancinhas tem que penar no fogo do inferno, bem longe do candidato preferido, bom moço e pobre menino, filho de Maria.</div><div align="justify">Não demora, teremos uma nova marcha da família. Com deus, pela liberdade! Milhares de senhoras e senhores bem vestidos, carregando cartazes de fora o demônio!</div><div align="justify">Naquele papo esquisofrênicojaborianoobssessivo, lascam em editoriais: <strong>"fiquem advertidos de que tentativas de controle da imprensa serão repudiadas"</strong>. E se dizem apartidários, independentes e pluralistas. </div><div align="justify">Burlam o jogo. Escondem as regras, invertem o direito à comunicação previsto na Constituição. Tudo na mais santa paz. Na mais completa liberdade. E tudo bem. Como deve ser. </div><div align="justify">Informar a população sobre os desmandos do governo é dever da imprensa. Todo mundo sabe. Optar por um candidato é transparente e mais honesto. Todo mundo apoia. Fazer campanha pró ou contra candidatos é abuso de poder. Cadê as vaias? Imprensa livre é saudável. Todo mundo gosta. </div><div align="justify">Pena que estejam todos de um lado só. E se acham!</div><div align="justify">Verdadeiros democratas. </div><br /><br /><br /><dir><br /><dir><br /><table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0"><br /><br /><tbody><br /><br /><tr><br /><br /><td colspan="2"><span class="art_texto"><b><br /><p><span style="color:#ff0000;"></span></p></b><br /><p><b></p></b><br /><p></p><br /><br /><p></p><br /><p></p><br /><br /><p><br /></p><br /><p></p></span></td></tr></tbody></table><br /></dir></dir>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-74647353305901821242010-05-25T16:34:00.009-03:002013-01-07T16:34:47.491-03:00Tempo...tempo...tempo...<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/S_2CpXbdjtI/AAAAAAAAAPk/0UgPnzxAJGo/s1600/PAA077000080.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5475676369127837394" src="http://2.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/S_2CpXbdjtI/AAAAAAAAAPk/0UgPnzxAJGo/s200/PAA077000080.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 120px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 170px;" /></a><br />
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Tempo, tempo, tempo... dizia a senhora elegante, muito apressada, ao discar o telefone, enquanto batia nervosamente os dedos de uma mão, bem cuidada, na mesinha ao lado do sofá, em que ela estava sentada, na sala do laboratório clínico de exames. A outra mão, segurava o fone. "<span style="font-size: 130%;">Bom</span> dia, Alessandra, quero te passar rapidamente as coordenadas sobre o que você deverá enfatizar na reunião das 10 horas... e..." <br />
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Estava à sua frente. Aproveitei pra levantar e tomar um cafezinho. Minha irmã recém tinha sido chamada. Pra fazer dois exames. Senha 2015. O painel já indicava a 2016.</div>
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"<span style="font-size: 130%;">Bom</span> dia Helena..." (bah, já tinha esquecido a senhora apressada e seu correto portugues). Agora ela estava no celular. Tentei sentar longe, mas não teve jeito. Poucas pessoas no ambiente, o forte volume da voz, então vamo que vamo. -" ... quero te dizer uma coisa, manda a dona Francisca, mas veja bem, com toda a polidez possível, e no momento certo, limpar direitinho a....que ela não fez direito...deixou a persiana... Diz assim: ooooolha a Rosana vai passar por aqui não demora e voce sabe como ela é exigente, examina tudo...</div>
<div align="justify">
"<span style="font-size: 130%;">Oooi,</span> bom dia, eu sou Rosana...quero matricular a minha filha no período entre 12:30 às 13:30, o único horário livre que ela tem... escolhi o seu curso porq...eu entendo... também sou professora de inglês... tenho uma escola também... está perfeito, ela está no 4º ano de medicina... ah, está perfeito... de acordo com meu orçamento... meu marido trabalha na Transfor, que fica na rua aí atrás... e vai poder dar uma carona a ela... excelente!..." </div>
<div align="justify">
Abri o livro na página marcada. De novo, não tive como não ouvir a secretária se desculpar com Rosana - que foi obrigada a dar uma rápida pausa no celular - pelo atraso do exame. "Então eu vou dar um pulinho no banco do shopping, ah, o tempo..." </div>
<div align="justify">
Tempo pra ler umas seis páginas, pensei. Na quarta, o toc,toc do salto apressado anunciava. Rosana chegou. Falando ao celular, claro! Sentou ao meu lado. " ... pois é Luana, cheguei há pouco do Rio, acabei fazendo o curso que voce tinha me indicado... muito bom... prensei todo o final de semana... mas foi ótimo... sei que voce está com pressa... liguei só pra te agradecer a gentileza... é merecemos tomar um café juntas... te ligo pra marcar... beijos..."</div>
<div align="justify">
"Incomodo você?" - me perguntou, já discando e sem se preocupar em ouvir a minha resposta, rebateu: o tempo, o tempo... </div>
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"...Bom dia, Marta, quinta-feira tenho uma palestra, vou ter que sair uns 20 minutos antes da aula. Informa para a Maria Alice que ela vai ter que me substituir neste tempo que falta... tudo bem por aí?... ah, me confirma se o jantar é hoje mesmo?..."</div>
<div align="justify">
Levantei pra tomar água. "<span style="font-size: 78%;">Booom dia..."</span> - pelo menos a voz estava um pouquinho mais longe. Vou ficar um tempo por aqui. </div>
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Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-69512706897341442232010-05-17T12:51:00.007-03:002010-05-28T15:45:53.777-03:00Um fácil negócio<div align="justify"><a href="http://2.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/S_GY6I6-gfI/AAAAAAAAAPU/wX3PDEz8Xuo/s1600/imagesCA2U5RGW.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 112px; FLOAT: left; HEIGHT: 132px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5472323146826547698" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/S_GY6I6-gfI/AAAAAAAAAPU/wX3PDEz8Xuo/s200/imagesCA2U5RGW.jpg" /></a> Nas grandes cidades, a abordagem de "prega dores" à pessoas nas ruas é mais discreta. Se limitam à áreas pobres, onde há mais facilidade de concentração de homens e mulheres em dificuldades financeiras e sociais. Pela própria obviedade, os sofredores são mais frágeis de convencimento, tipo, "pior do que está, é impossível, quem sabe sigo este caminho." Acreditar em algo mais, se torna um conforto...<br />A carência é grande. Daí não ser muito estranho perceber que, em pleno Morumbi, dito bairro nobre de Sampa, há uma espécie de marcação cerrada por zona, dos ditos doutrinadores. (Pra quem não sabe, existe até associação internacional deles). Ainda que discretos, eles sentam em determinados bancos de pontos de ônibus. Conforme a cara do vizinho que sentará ao seu lado, tá eleita a vítima. E pra isto tem que ter muito feeling. Só uma observaçãozinha: já tentou fazer um comentário inocente com um paulista na fila da padaria, por exemplo? A pessoa te olha com cara de voce é louco? Por que tá falando comigo???<br /></div><p align="justify">Pois bem, dia destes, durante a caminhada, decidi sentar ao lado de uma "presa". Um jovem, aparentando timidez. Por cerca de três minutos, ele ouviu do coroa bem trajado, com jeito de respeitável, a opção de pertencer à Comunidade Evangélica Senhor da Paz Interior. Até chegar seu ônibus, o cara só ouviu. E levou no bolso um impresso com mais informações da seita. E claro, número do registro e cadastro nos órgãos responsáveis.</p><p align="justify">Fácil assim, porque a mamata é institucionalizada. Não existem requisitos para abrir uma igreja por aqui. Nem um determinado número de fiéis, nem sequer uma linha teológica. Basta uma apresentação da entidade, ou seja que nome se chamar, em forma de documento, para obter a inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, o conhecido CNPJ.</p><p align="justify">Simples assim! Inclusive um, dois, três celulares da Oi, já que tocamos no comercial da dita. Isto porque, o número do CNPJ abre as portas pra tudo: uma conta bancária, com aplicações financeiras, e o que é melhor, sem qualquer tributo, diferente do que uma empresa comum é obrigada a pagar sobre este tipo de operação.</p><p align="justify">Pela constituição, união, estados e municípios são proibidos de cobrar impostos de templos, independente de cultos. Mas pode cobrar pela prestação de serviços, comprar casas, carros sem pagar Iptu, Ipva e Iss, em nome de seus criadores e dirigentes. Tem mais, se um deles, incluíndo aí, pregadores e sacerdotes forem presos, tem direito a prisão especial. </p><p align="justify">Um trabalho e tanto, né não?</p>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-496236504556136832010-03-01T18:30:00.008-03:002013-01-07T16:50:21.943-03:00Sampa no século XXI<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDOXQy39PQ_fRFEeL9WN6riTTPM5t4-Ae2az-Qb7JzubUOrBzcwcjObqX3PxmAThcDIiRb5fGN1W4JzS8YNUbRXWY6gVR-L9OmlcKniOwnc4ZbiynPcjRxleMA5_FdzoHe9VChOA/s1600/Imagem0439.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDOXQy39PQ_fRFEeL9WN6riTTPM5t4-Ae2az-Qb7JzubUOrBzcwcjObqX3PxmAThcDIiRb5fGN1W4JzS8YNUbRXWY6gVR-L9OmlcKniOwnc4ZbiynPcjRxleMA5_FdzoHe9VChOA/s200/Imagem0439.jpg" width="150" /></a></div>
A trégua da chuva na cidade é real. O sol escaldante batendo no quarto às 8 da manhã fervente de verão, prenunciava o futuro das horas. O dia abafado confundia realidade e pesadelo. Roque. Buzina. E motor. Tudo ao mesmo tempo. Maurício desliga o som apressado. Como sempre faz ao acordar. Hoje, mais tarde um pouquinho. Respira fundo e se espreguiça devagar. Ri de si mesmo, pela falta de pressa. Ainda bem que a reunião no escritório está marcada para às 11. "Um antiestresse demorado agora", pensou entusiasmado.<br />
Ainda na cama, aperta o controle de abertura das duchas e levanta cantando até a sala de banho.</div>
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Como assim? Não tem água de novo? Puxa, mas isto foi ontem... lembrou. Ainda bem que existe a água do refrigerador pra beber. Lavar o rosto...<br />
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Café na rua. Em 2 horas, Maurício chega ao trabalho. Se o trânsito de férias continuar calmo.</div>
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Foi só um sonho. A realidade do engarrafamento desmonta previsões, na cidade imprevisível. E o atraso, rotina.<br />
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Melhorou no retorno pra casa, às 10 da noite. Mas ainda sem água no prédio. "O condomínio comprou 4 mil litros de água, pra abastecer a caixa, mas a empresa teve que cancelar, devido a alta demanda e a falta de caminhões-pipas", informou o porteiro.<br />
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Maurício deu a volta e foi parar num hotel. "Amanhã é um novo dia. Tudo será diferente", pensou.<br />
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Teve que ficar mais tempo fora de casa. O abastecimento foi regularizado 2 dias depois. Uuufa!<br />
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Nova semana! Um revigorado Maurício desliga o som apressado. Como sempre faz ao acorrr...darr... Pe-e-erai... Recapitulando. "É impressão, ou tô sonhando? Ah, o som estragou..." imaginou.<br />
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Liga o botão do banho e levanta cantando." Pooorra, de novo, faltou luz!!! Deve estar chovendo... Maurício já está escolado. Quando chove em São Paulo é falta de luz na certa! Às vezes 2... 3... 4 horas.<br />
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Pra quem tá chegando na maior cidade da América do Sul: daqui à pouco vem o inverno. É melhor a gente se preparar... </div>
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Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-90437269043190970522010-02-19T15:32:00.004-03:002010-02-19T18:31:32.189-03:00Fantasia de mulher!<a href="http://3.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/S38Cw7keCdI/AAAAAAAAAOU/fLpOPvcJ5cM/s1600-h/Homens+vestidos+de+mulheres.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 133px; FLOAT: left; HEIGHT: 200px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5440069914534480338" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/S38Cw7keCdI/AAAAAAAAAOU/fLpOPvcJ5cM/s200/Homens+vestidos+de+mulheres.jpg" /></a> Elas subiam a avenida quietinhas, como meninas comportadas. Mesmo assim, chamavam a atenção dos poucos gatos pingados que passavam pelas calçadas da Giovanni Gronchi, na manhã desta terça de carnaval.<br /><p align="justify">Também, nem precisava auê. Rogéria e Marcela - os nomes são fictícios - mas encaixam direitinho às respectivas personagens, esbanjavam breguice. Perucas loiras, vestidos brilhantes, decotes extravagantes, deixando à mostra seios postiços, cercados por uma montanha de pêlos escuros. </p><p align="justify">E tênis! Claro, os sapatos de saltos deveriam estar guardados nas mochilas que carregavam às costas. </p><p align="justify">Estranha mania esta de homens se vestirem de mulheres no carnaval. De todas as classes e profissões. Suspeitos e insuspeitos. Respeitados pais de família. </p><p align="justify">"Meu vizinho é um machão daqueeeeles, vive proibindo a filha de usar minissaia, mas nesta época, é o primeiro a aderir", me disse o porteiro do prédio. Voce já se vestiu? - perguntei. Não. Mas se fosse pra um bloco, quem sabe? - respondeu. </p><p align="justify">Na teoria de um amigo psicólogo a fantasia de mulher - nunca comportada, mas sempre extravagante e sensual - libera outras fantasias...</p><p align="justify">A verdade é que todo o homem tem a sua porção mulher. Mesmo aqueles que não concordam com Gilberto Gil. Assim como toda a mulher tem sua porção homem. E todos demonstramos isso, ainda que inconscientemente, em algumas horas de nossas atividades, no trabalho, no esporte, no trânsito, na cama. </p><p align="justify">Mas que diabos, no carnaval só os homens se liberam total? Ou as mulheres são muito tímidas e retraídas pra invadir o guardarroupa dos maridos e companhia ilimitada na festa da liberação? Ainda não vi mulher fantasiada de homem, no carnaval. Se isto acontece, acho que são poucas. </p>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-2649789265100461642010-01-15T17:34:00.005-03:002010-01-16T16:21:21.844-03:00Uma paródia de Drumond em homenagem aos coleguinhas...<div align="justify"><a href="http://2.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/S1IQrn9TNTI/AAAAAAAAAOM/mUkUnGkUaVk/s1600-h/jornais_~k0444112.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; FLOAT: left; HEIGHT: 147px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5427418842581382450" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/S1IQrn9TNTI/AAAAAAAAAOM/mUkUnGkUaVk/s200/jornais_~k0444112.jpg" /></a>E agora José?</div><div align="justify">O primeiro ano passou. O segundo ano passou. O terceiro ano terminou e quando você viu, seu deadline sumiu. Acabaram com a tua faculdade. </div><div align="justify">De jornalista, voce virou cozinheiro!</div><div align="justify"> </div><div align="justify">De que adiantou, José, voce batalhar, passar horas da madrugada estudando, de dia no cursinho, gastando metade do seu salário pra enfrentar o vestibular?</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Veio a aprovação. Voce chorou como criança. Depois pagou mais do que a metade do seu salário. Matrícula. Primeiro ano. Segundo. Terceiro... </div><div align="justify"> </div><div align="justify">O quarto virou ficção, José. Pauta furada. Matéria censurada. Rainha da Inglaterra. Receita de bolo.</div><div align="justify">O quarto ano se foi. E o diploma...</div><div align="justify"> </div><div align="justify">O diploma não vale. O emprego não há.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Você está sozinho José. Os jornais te reprovam. Barrigam com a "tua" preferência. Abafam a tua voz. Você não tem panela. Quem mandou estudar? Só voce ficou. E agora?</div><div align="justify"><br /></div><p align="justify">Quer ir a fonte, a editoria. A Lei de Imprensa. Mas lei de imprensa não há, José. E as mesas dos bares estão todas vazias...</p><div align="justify">Se você escrevesse. Se voce tivesse espaço. Se voce cavasse. Se voce apurasse. Se voce garimpasse. Se voce copidescasse. Se voce bebesse José!</div><div align="justify"><br /></div><p align="justify">Mas voce não bebe! Voce não tem dinherio José.</p><div align="justify">Voce com seus códigos de ética. Com seus manuais de redação. Com sua psicologia de botequim. Com sua responsabilidade de ouvir os dois lados. Que lados, José?</div><div align="justify"><br /></div><p align="justify">Tens os códigos nas mãos. Mas e o sentimento do mundo? Cadê José?</p><div align="justify">Cadê a verdade que orientava suas entrevistas? Cadê o sentimento de liberdade? Cadê o "case"? </div><div align="justify"> </div><div align="justify">Cadê a matéria isenta?</div><div align="justify"> </div><div align="justify">E a tua compreensiva companheira, de cabeça feita, que lhe jurava amor?</div><div align="justify"><br /></div><p align="justify">Se mandou, José... Com seu amigo diretor.</p><div align="justify">Tudo passou. Tudo ruiu. Tudo mofou. Amarelou. Página virada. Letras apagadas. Virou off.</div><div align="justify"><br /></div><p align="justify">Só voce ficou. Incrédulo. Plantado. Com seu sentimento impotente de indignação. Com o estômago revirado pela angústia do fim de um sonho.</p><div align="justify">Que fazer, José? Morrer?</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Mas voce não morre. Voce é duro, babaca José.</div><div align="justify"><br /><br /></div><p align="justify"></p>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-44722494212694011782010-01-05T13:04:00.006-03:002010-01-07T16:41:46.957-03:00Liberdade de expressão! Ou texto que jamais seria lido em um jornal...<a href="http://4.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/S0Y4PrIFK8I/AAAAAAAAAOE/JwJSIF_adsE/s1600-h/jornal+no+abnco.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 120px; FLOAT: left; HEIGHT: 96px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5424084643140152258" border="0" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/S0Y4PrIFK8I/AAAAAAAAAOE/JwJSIF_adsE/s200/jornal+no+abnco.jpg" /></a> O costume faz o monge. Ou vice-versa. Ah, a filosofia não vem ao caso, quando o papo é simples e rasteiro. Seguinte: a gente sabe que os jornais nascem com notícias velhas. Notícias que já foram lidas no dia anterior, na web. Pelo menos, pro ainda pequeno público deste país que pode se utilizar do computador. O outro, o maior, não lê mesmo. Ou os R$ 2 e 50 faltam pro ônibus, ou não tem interesse mesmo.<br /><p align="justify">O problema é que estas certezas, chatérrimas de explicar e serem entendidas, especialmente por antigos jornalistas, leitores e companhias limitadas, viram cacoetes, hábitos. O que significa, nem pensar em desistir da leitura diária in loco dos jornais. Sujando bem as mãos de tinta, pra ficar mais gostoso. E pra que não falte nunca - outra neurose jurássica - é bom se resguardar com a assinatura. Quando há a impossibilidade do dito ser entregue, bonitinho na portinha de casa, coisa que sempre acontece no verão de transferências pra praia, aí é que dá mais vontade de ler.</p><p align="justify">Digo isto, pra explicar, porque, em plena manhã de domingoressaca, me pus em marcha atrás do Estadão pelos lados de um deserto Morumbi, em pleno dia 3 de janeiro. Mas cadê o Estadão? Fui encontrar na terceira banca! E me surprendi com a constatação que eu já desconfiava com os meus botões. Enquanto o Estado de São Paulo e até o populacho Diário haviam sumido, vários exemplares da Folha de São Paulo, a minha queriiiida Folhinha dos áureos tempos de chumbo, sniiiiiiiifando. Parecia chorar, de tão desprezada no suporte de jornais. </p><p align="justify">O que faz uma ditabranda, pensei ! Se bem que o Estadão também, né...</p><p align="justify">Bom, continuando... o fato não parece sazonal. "É verdade, faz tempo que a Folha sempre sobra", confirmou o dono da banca. Mas quer saber, Frias, Mesquitas, Marinhos, Macedos, Barros, Saads sempre se garantem", ironizou o jornaleiro. </p><p align="justify">Um unido e poderoso time de elite! Simples e rasteiro.</p><br /><p></p><br /><p></p>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-45092864294381902622009-12-23T13:36:00.005-03:002009-12-23T16:17:22.237-03:00"Eu te darei o céu, meu bem..."<div align="justify"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/SzJrtGwK5JI/AAAAAAAAAN8/iKoDRO9pHhk/s1600-h/motoqueiro+a+melhor.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 127px; FLOAT: left; HEIGHT: 71px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5418511724331066514" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/SzJrtGwK5JI/AAAAAAAAAN8/iKoDRO9pHhk/s200/motoqueiro+a+melhor.jpg" /></a> "Eu te darei o céu, meu bem e o meu amor também", vinha ele cantando em altos brados.<br />Tudo normal, se não fosse no meio do trânsito da lotada avenida Giovanni Gronchi, pilotando uma potente moto, carregada de pacotes.<br /><br /></div><div align="justify">Até, pro sempre comportado povo paulistano, que tenta ignorar qualquer ato incomum de um ser humano, a atitude astral do cara, não conseguiu passar despercebida. E quase todos que estavam próximos de mim, na calçada, riram satisfeitos e solidários. Não aguentei e bati palmas.</div><div align="justify"><br />Será o Natal? Pensei. Pensei e ao mesmo tempo tentei imaginar, o que teria acontecido ao motoqueiro, pra quebrar as regras e externar alegria, em pleno trânsito caótico. Dinheiro extra? Uma promoção? Um presente especial? Um novo amor?<br /><br />Ou seria o contrário? A falta de grana... Quem sabe um pai de família, endividado, e que além das inúmeras dificuldades pra criar os filhos, pagar escolas, botar comida na mesa, ainda tinha que descobrir uma saída honesta pra comprar presentes, nestes tempos consumistas? Cantar pode ser uma válvula de escape. Aos berros, a terapia fica melhor ainda.<br /><br />Não. Se ele estivesse deprimido, iria descolar um outro repertório robertiano, tipo "eu prefiro as curvas, da estrada de Santos..." ou "além do horizonte deve ter..." ou, "lady Laura, me leve pra casa..."<br /><br />Não! Nunquinha. Meu entusiasmado coração natalino-família-escorpiano-tigre, em véspera de grandes e históricas transformações anuais, confirma que o motoqueiro cantava mesmo era de felicidade!</div>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-31134470072563576102009-11-16T17:11:00.006-03:002009-11-20T18:25:44.332-03:00O duro colorido ofício!<a href="http://3.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/SwcI1rJjb1I/AAAAAAAAANw/LhNxz2IfRZY/s1600/Imagem0123+(2).jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 156px; FLOAT: left; HEIGHT: 200px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5406299595890454354" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/SwcI1rJjb1I/AAAAAAAAANw/LhNxz2IfRZY/s200/Imagem0123+(2).jpg" /></a> Durante a semana é um trânsito maluco de carros. No finde a coisa muda. Um trânsito maluco de carros e... publicidade ambulante!<br /><br />Como em Sampa é proibida a exposição de placas de propaganda nas ruas da cidade, sobrou pro lado escravagista do capitalismo. O que significa centenas de homens e mulheres circulando pelas avenidas, vestidos com grandes placas indicativas de lançamentos imobiliários.<br /><br /><div align="justify">Por enquanto, o marketing vivo é das construtores de imóveis. O morumbi é farto disso. Pra desespero ecológico e dos moradores que veem os poucos espaços de graminhas reduzirem lightimente os recantos verdes do bairro. </div><br /><br /><div align="justify">Cada sábado e domingo - época natalina aumenta - forma-se aquela praia colorida de bandeiras, balões e perucas vermelhas, azuis, laranjas, verdes. Conforme as cores das construtoras. "Três dormitórios, duas vagas". É o texto da vez. Em grandes letras. Nas placas menores, prevalece o item mais importante, nestes tempos de guerra por espaços. "Duas ou 3 vagas" . </div><br /><br /><div align="justify">Foi numa esquina, quase levantando voo, de tanto balão preso nos ombros, que encontrei Carlos Andrade. Um garoto que parece mais com jogador de basquete do que modelo de placa. A altura leva vantagem na hora do recrutamento. Por razões óbvias. "Eles gostam, mas não se ganha mais por isto", fez questão de ressaltar, em resposta a pergunta.</div><br /><br /><div align="justify">Com 17 anos, ainda no oitavo ano do primeiro grau, ele ganha a vida com bicos. "Ninguém assina carteira ao de menor", afirma. A dária de trabalho para um placa-viva é de R$ 45. Mais a passagem de ônibus. Começa às 8 e meia e termina às 6 e meia da tarde. Folga, só pra fazer xixi. E quando estiver muito apertado. "Me viro com sanduíche, que trago de casa e como aqui mesmo".</div><br /><br /><div align="justify">Carlos não reclama. "Acho bom. São quase uns centinhos, só no final de semana, meu". </div><br /><br /><div align="justify">Durante a semana, ele só estuda. Filho do meio de três irmãos, ele diz que não ajuda em casa, porque o salário de segurança do pai " dá pra viver".</div><br /><br /><div align="justify">O que não acontece com Amanda Cruz, sua colega, de 15 anos. Ela afirma que mais da metade do que ganha no sábado e domingo, vai pra alimentação da casa. "Queria poder encontrar um emprego legal, que pudesse ganhar mais, mas é dífícil pra mim". Órfã de mãe, Amanda é responsável pela casa, a alimentação e o cuidado com os irmãos menores, durante a semana, além de estudar à noite. </div><br /><br /><div align="justify">"Ei, acho que este senhor da Pajero quer a minha informação", desculpou-se para atender o cara, que a chamou. Se o comprador der o nome de alguém que o indicou para o local, ganha um presente do corretor. </div><br /><br /><div align="justify">Não foi desta vez. Dá pra ver no rosto de Amanda, ao retornar ao seu local de trabalho. "Puxa, ele só queria o meu telefone pra combinar de sair mais tarde", disse tentando esconder a decepção e não desanimar na injusta luta pela guerra da sobrevivência.</div>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-869922599236090212009-10-12T10:53:00.003-03:002009-10-19T13:57:05.710-03:00Importante é ver com o coração<a href="http://1.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/StyaRD1mYlI/AAAAAAAAANY/rsxOdrhWmv0/s1600-h/Waterfall.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; FLOAT: left; HEIGHT: 150px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5394356071561585234" border="0" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/StyaRD1mYlI/AAAAAAAAANY/rsxOdrhWmv0/s200/Waterfall.jpg" /></a><br /><div align="justify">O dia amanheceu frio e nublado, neste feriado. Cinza e triste. Só não digo a cara de São Paulo, porque o barulho de businas e motores deu uma trégua, na sempre movimentada e frenética avenida Guilherme Dumont.</div><br /><div align="justify">Então de longe, eu a percebi. </div><br /><div align="justify">Ela vinha caminhando na direção oposta à minha. Bengala colorida. Lenço de seda na cabeça, recoberto por um chapéu vermelho. Écharpe florida no pescoço. Sombra verde, combinando com os olhos expressivos, apesar da idade secular. Base no rosto envelhecido, de quem já viveu muitos séculos. Uma figura, realmente, muito estranha.</div><br /><div align="justify">"Como se desenha um unicórnio? - me perguntou de sopetão, no exato momento em que nos cruzamos, num português enrolado. </div><br /><div align="justify">Instintivamente peguei o papel e o lápis que ela me oferecia. Ia começar pelo chifre. Pensei no Saint-Exupéry e parti pra imaginação: fiz uma caixa e disse que o unicórnio estava dentro dela. Ao invés de me xingar, ou fazer cara feia, ela abriu um sorriso tão largo, que mudei o rumo do caminho, pra acompanhá-la. Devagarinho. No seu passo. </div><br /><div align="justify">"Você também veio do céu" - me disse quase murmurando no ouvido.</div><br /><div align="justify">"Vim", falei inconsequente, querendo saber até onde ia a historinha.</div><br /><div align="justify">Depois de um longo papo, descobri que ela vinha de outro planeta. Era um lugar muito parecido com a terra: o asteróide B 612. Mas com bem menos habitantes. Cerca de 10 mil. Por ser muito pequeno.Todos descendentes de um príncipe e uma vaidosa rosa. A única que não murchava no planeta e ganhou o amor do principezinho, contou.</div><br /><div align="justify">"A flor era tudo pra ele. Mas era mentirosa e isso o magoava muito". Decepcionado, resolveu viajar. Então caiu no deserto, após ter pego carona com um bando de pássaros.</div><br /><div align="justify">Triste e confuso - continuou - o Pequeno Príncipe andava pela Terra, quando deu de cara com uma raposa. Foi ela quem ensinou a ele os segredos mais importantes da vida, como cultivar as amizades e aprender a amar. Ficou quase um ano por aqui. E voltou pra sua rosa, por descobrir que ela era única, no meio de tantas.</div><br /><div align="justify">Perguntei se ela era a única daquele planeta que estava entre nós. Ela me respondeu que a quantidade dependia da cabeça das pessoas. "A grande maioria não consegue enxergar um ser diferente". </div><br /><div align="justify">Dito isso, ficou sonolenta e desapareceu como que por encanto!</div><br /><div align="justify">Pensei: o essencial é invisível para os olhos. O importante é ver com o coração...</div><br /><div align="justify">E continuei meu caminho, sentindo o calor do sol, curtindo as flores e ouvindo o canto dos pássaros, apesar do tempo nublado e da avenida, nesta altura das horas, congestionada de carros.</div><br /><br /><div></div><br /><br /><div></div><br /><br /><div></div>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-37550129411826022672009-09-24T13:56:00.008-03:002009-09-25T15:44:08.229-03:00Historinha de um amor fast food<div align="justify">"Oi, você não tem como escapar. Eu sempre te acho...</div><div align="justify">" A voz coquete, que antigamente dava arrepios de tesão no irrequieto coração de Artur, naquele momento causava indiferença. Daí, o diálogo frio, sobre o tempo da nova cidade, o novo tipo de trabalho, o filho.... </div><div align="justify">Na última vez que os dois haviam se falado pessoalmente, foi para Artur dar um ponto final no relacionamento recém reiniciado entre eles.</div><div align="justify">Claro, que Solange não aceitou. Possessiva e carente como era, jamais admitiria o fora. "Amanhã eu chego aí... Já comprei a passagem...</div><div align="justify">Pelo sim, pelo não, Artur preferiu fugir pra Fortaleza, sem avisar. </div><div align="justify">Pelo sim, pelo não, já no seu ap, com a ex-mulher, evitava atender o telefone.</div><div align="justify">Dois dias após, quando ela chegou na portaria, pra entregar uma foto, que ela havia roubado de sua carteira, mandou dizer que não estava.</div><div align="justify">Também mandou dizer que não estava, no outro dia, quando ela foi lhe entregar uma bermuda, que tinha ficado na sua casa.</div><div align="justify">Avisou ao porteiro que não poderia descer, quando Solange, retornou no dia seguinte, pra lhe devolver uma camiseta também esquecida. Bah, ainda tem outra lá, pensou desesperado.</div><div align="justify">Riscado o telefone e endereço, a estratégia de Solange virou via para o cerco constante. Via torpedos... via recados de amigas... via praia... </div><div align="justify">...Via namoro com um grande amigo seu, na tentativa de frequentar a casa do casal. Artur decidiu se mudar. Estava realmente empenhado em preservar seu relacionamento de quase uma década, com a atual mulher. </div><div align="justify">Quase um ano depois, Artur atende o telefone. Ela sempre achava. Fala com uma amigável Solange, se dizendo apaixonada como nunca na vida, feliz como nunca na vida, anunciando o casamento com o pai do seu filho. "Ele sempre foi o grande amor da minha vida..."</div><div align="justify">Artur ficou feliz, como nunca.<br />Até a historinha retornar ao início. Lembra? A continuação do telefonema de Solange. O papo do tempo. Do trabalho. Do filho...</div><div align="justify">"Sabia que eu casei no ano passado?" - finalmente falou, no momento em que Artur estava se despedindo. </div><div align="justify">"Ah é, parabéns..." </div><div align="justify">"Não, não é com quem você está pensando. É com um juíz. Ele é lindo demais. Tô apaixonadíssima...</div><div align="justify">"Ah, que bom, então parabéns de novo". </div><div align="justify">...eu tô muito feliz...Quer dizer, ele tá mais. Ele é apaixonado por mim, este é que é o problema. Se souber que estou te ligando é capaz de me matar...</div><div align="justify">...então vamos desligar logo...</div><div align="justify">...a mãe dele, a sobrinha dele, a família toda me ama demais. Ele me dá tudo o que eu quero. É muito amor...Eu amo ele demais. Mas agora estamos separados...</div><div align="justify">...xiii, que pena, tenta falar com ele...</div><div align="justify">...não, fui eu que quis. Ele tá desesperado. Ontem tentou se matar...</div><div align="justify">...mas se você o ama, porque a separação...</div><div align="justify">...é que ele tem uma gata...</div><div align="justify">...ah, entendi...</div><div align="justify">...uma gata da qual ele não abre mão de jeito nenhum. Até dorme com ela...</div><div align="justify">...poxa, faz uma concessão por amor...</div><div align="justify">...não posso, eu tenho alergia... E você? Eu quero te ver. Vou à Sampa amanhã...</div><div align="justify">Ei, tchau, tão tocando a campainha...</div><div align="justify"></div>( Claro, que vai ter continuação, qualquer dia...)Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-62806370292358154692009-09-15T14:14:00.004-03:002009-09-15T14:26:39.003-03:00Tempo esgotado!<div align="justify"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/Sq_L4sT33uI/AAAAAAAAAMw/2hMLkxuw3m0/s1600-h/a%C2%B4rvore.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 124px; FLOAT: left; HEIGHT: 79px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5381744254558658274" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/Sq_L4sT33uI/AAAAAAAAAMw/2hMLkxuw3m0/s200/a%C2%B4rvore.jpg" /></a> Não tinha jeito de doente. Apesar de seu aspecto triste e amarelado. Era pequeninha, em comparação com as outras muitas e grandonas, que faziam parte de seu cotidiano. Sabe-se lá, há quantos anos! Teria sido a chuva ou o vento da madrugada? O certo é que ela não resistiu à noite anterior.<br /><br />Será que pediu socorro? Quem a ouviria, na rua pouco movimentada de gente e repleta de carros apressados? Ou aguentou resignada o destino urbano que lhe foi dado. Aspirando fumaça e poluição? Parecia jovem entre centenárias... Teria filhos? Teria pais? Avós? Qual sua origem?<br />Mas tinha história. Com certeza! Guardadas na natureza. Quantos beijos presenciados... Quantos amores feitos e desfeitos, num pequeno percurso entre as calçadas e os prédios?<br /><br />Não viu, aposto, crianças correndo suadas, lambuzadas de areia, jogando bola... A zona não permitia esse tipo de liberdade. Nobre e com edifícios cercados por todo tipo de aparelhos de segurança. Além disso, era de outra geração. A da infância muito ocupada. Com cursos e jogos eletrônicos como lazer.<br /><br />Assaltos. Alguns, deve ter observado. Testemunha ocular de planejamentos estratégicos. Vigilância programada. Desfechos previsíveis... No silêncio da rua, onde só as máquinas tem direito.<br /><br />Hoje cedinho ela não assistiu os rotineiros barulhos dos portões das garagens se abrindo pra pulsação da vida. Nem a chegada dos milhares de funcionários na direção de mais um dia de trabalho em seus respectivos prédios.<br /><br />Estava caída. Inerte. Ocupando metade da calçada, da rua José Galante. Sozinha. Sem ninguém pra lamentar a sua falta. Mais tarde, será retirada por um caminhão da prefeitura. Nos próximos dias, será lixo ou carvão.</div>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-90767470145129029412009-09-08T12:47:00.006-03:002009-09-08T16:21:23.997-03:00O som da vida<a href="http://4.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/SqatfEfHgeI/AAAAAAAAAMY/P4RDDCCm5KI/s1600-h/Imagem0022.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 150px; FLOAT: left; HEIGHT: 200px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5379177554232443362" border="0" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/SqatfEfHgeI/AAAAAAAAAMY/P4RDDCCm5KI/s200/Imagem0022.jpg" /></a> O sol batendo radiante nas árvores diversificadas em vários tons de verde. A grama fresca de um imenso jardim. Flores vivas, de todas as cores e tamanhos. A água límpida estalando em pontos cristalinos. Canção doce de um cenário de filme...<br /><br />Algum lugar do Rio Grande... Algum lugar de Belém Velho... Algum lugar de Salvador... Alguma praia de Vitória... Minha casa florida, escondidinha em Fortal... De onde vinha este canto lindo e diferente do pássaro que insistia em gritar bem alto pra ser ouvido, no início da manhã desta terça-feira, dando o seu grito atrasado de independência?<br /><br />Maravilhoso... Mas aflito... Como que de alívio e pedido de socorro... Uma mistura de infância exuberante e rígida polidez de adulto.... Um canto de campo, em plena realidade paulista!<br /><br />Parecia. Mas não era sonho. Mesmo sem a presença do sol. O escuro da luz que resplandecia às sete da manhã, entre buzinas e ruídos de trânsito engarrafado, indicava a visão do décimo segundo andar da avenida chuvosa. Ainda sonolenta, entre as cortinas semi-abertas.<br /><br />Uma manhã caótica, apesar do encanto do despertar... Chuva de granizo, céu tomado de nuvens pretas... Uma São Paulo previsível.<br /><br />Parecia tão longe... A casa na favela sendo arrastada. A morte de um motoqueiro imprensado entre um caminhão e ônibus. Um assalto no condominio. Uma árvore caída no carro. A luz cortada. Um tornado abortado. A vitrine praiana do shopping.<br /><br /><p align="justify">O canto emudeceu. No café da manhã. A previsão de tempo feio, pro resto do dia, no Bom dia Brasil. </p>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-61455328663667827612009-08-25T15:42:00.003-03:002009-08-25T19:00:34.807-03:00Anti-vírus corrupção<div align="justify">"É você mesmo?! Não acredito..."</div><div align="justify">A senhora elegante e surpresa, que acabara de sentar na mesa em que eu tomava um café, no shopping Jardim Sul, no meio da tarde de ontem, parece ter sido atraída pelo poder do pensamento. </div><div align="justify">Era em situações vividas por ela e outros colegas seus, justamente o que pensava, após ler a crônica do Nelson Motta, no Estadão. Ele reivindicava adicional de insalubridade para os repórteres políticos do Congresso, por trabalharem no meio de tanta podridão. </div><div align="justify">Não querendo me meter, mas já me metendo, acrescentaria: com um bom anti-vírus, também. Convivendo, diariamente, como repórter, no Parlamento, há quase 15 anos com a tradicional "raça", me lembrei de alguns colegas que foram contaminados pelas promessas de bons salários de maus políticos e acabaram mudando de camisa.</div><div align="justify">Estranhamente, de críticos, viraram defensores ferrenhos. Muitas vezes, sem qualquer cargo físico. Muitas vezes, por imposição do próprio dono do órgão de imprensa. Fora, os que viraram parte da mesma. Se tornaram políticos. Ainda que bem intencionados no início, acabaram fazendo parte dos esquemas e acordos longe de éticas.</div><div align="justify">Carmem é o nome dela. Fazia parte da minha lista de fontes políticas. No vocabulário jornalístico, fonte é alguém confiável, que passa informações, com a condição de não ter seu nome citado. Acho que não nos víamos há uns 9 anos ou mais. Fazia parte da assessoria do então deputado federal e ex-ministro Paulo Lustosa.</div><div align="justify">Na época, ela dividia seu salário com mais dois funcionários do gabinete. Por terem outros empregos públicos, os dois não podiam estar no registro da Câmara. Um belo dia de dezembro em Brasília, quase perto do natal, ela resolveu dar um basta no emprego e se mandou com a família pro Ceará. Logo após ter recebido o salário integral, incluíndo o décimo-terceiro...</div><div align="justify">Me disse que agora pretende se candidatar pelo PMDB à Câmara Municipal de Fortaleza.</div>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-62995217351029183242009-08-20T18:00:00.007-03:002009-08-22T12:04:28.298-03:00O lixo ético e o banal respeito humano<p>O dia desta quarta-feira amanheceu a cara do inverno paulista. Frio e nublado. Mas Rodrigo nem ligou. A sua frente, só via sol. Era o primeiro dias das férias, de 20 dias. Depois de dois anos de intenso trabalho, era a primeira vez que ele conseguia conciliar nos dois empregos um período livre. </p><p>Nada de barulho de carro, sirenes, trânsito engarrafado, gente apressada, averiguações de furtos, computadores paralisados, atendimento pra ontem. A ordem era se mandar! Longe desta zona de conflito estressante em que atuava diariamente como vigia de um shopping no morumbi e técnico de informática à noite. </p><p>"Tá bom! Vamos com calma", pensou Rodrigo ao se sentir estranho, depois de acordar, tomar banho e vestir jeans e camisetas pra sair de casa. Ainda viu , no Bom Dia Brasil, a Comissão de Ética do Senado arquivar todas as denúncias contra Sarney. Fez questão de se olhar no espelho, pra ficar convencido de que finalmente se livrara do sizudo terno azul-marinho.</p><p>Reuniu a mulher, a sogra e seu filho pequeno. O destino ? Uma fazenda qualquer, na estrada entre São Paulo e Rio. Antes, uma passada no supermercado Carrefour. Pouca coisa pra comprar. Biscoitinho, água mineral, refrigerante. Parou na entrada, deixou a família e foi estacionar.</p><p>Já na vaga, Rodrigo de repente ouve um estrondo! Um barulho de moto caindo no chão, ao lado do carro. Ele corre pra ajudar, mas o piloto não quer saber de solidariedade. Foge apressado. O alarme de seu carro dispara. Seguranças. Pessoas. O cerco se fecha. "Prende o ladrão! Grita um homem transtornado. Recebe um pontapé na perna, de outro mais exaltado.</p><p>"Gente, esse carro é meu..." tenta explicar. Apavorado. "Imagina, dele nada, chega de impunidade!" Acusa uma jovem, com um carrinho de compras. Rodrigo é colocado em um carro da segurança do supermercado, e empurrado para uma salinha. Com cinco trogloditas. Lá é ironizado. Humilhado. E apanha. Um. Dois. Três socos. "Cala a boca, negão, dono de um eco-esporte, é... goza um deles. Conheço este tipo. Deve ter várias passagens na polícia...</p><p>Mais calmo, um "agente da lei" decide averiguar os documentos que ficaram no carro. Encontra a família esperando Rodrigo. Os seguranças analisam os documentos. Um deles, pede desculpas. E vão todos embora.</p><p>Assim. Tão banal. Como se tudo não passasse de apenas um engano...</p><br /><p></p>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-56915183061248450962009-07-18T15:13:00.003-03:002009-07-18T20:56:48.965-03:00Estrangeiro de siA imagem daquele homem sentado na calçada, encostado no muro de um edifício da Giovanni Gronchi, na fria manhã deste sábado, cujos termômetros de rua marcavam 11 graus, deveria congelar mais o coração de qualquer ser humano.<br />Deveria. Não fosse o casaco de lã e do blusão de tricôt, das calças de veludo e da grossa bota, que vestia.<br />Deveria. Não fosse, ainda, o rosto indiferente do portador, insinuando uma estranha satisfação, passando a mensagem de não tô nem aí pra vocês. Fazendo contas em um bloquinho de papel, o cara se divertia com uma sinistra matemática.<br />Às vezes, ele deixava o bloco e passava pra uma folha solta, guardada no bolso da calça. Não resisti. Dei meia volta na caminhada e tentei xeretar. Quarenta e dois menos 9, mais 11, menos 13, vezes 3, mais 15, igual a... 9. “Não. Dá 108”, falei um tanto constrangida. “Uno mais oito...”, respondeu rindo.<br />Gregório Fernandez, um negrão alto e forte, cabelos até os ombros nasceu em Sampa. Foi adotado com um ano e meio de idade, por uma família hondurenha. Está em São Paulo há quase dois anos.<br />Há mais de uma semana que o vejo, diariamente, caminhando apressado pela avenida. Com uma pasta debaixo do braço e um gorro de lã. Sempre a mesma vestimenta. Caramba, a cara do seu Jorge, o ator e músico que fez show com a Ana Carolina.<br />Diz que veio pra cá, pra fazer pós- graduação de Farmácia na USP. E na busca de suas origens. Em busca de si mesmo. Desistiu do curso na metade. Descobriu que o passado não estava aqui. Entrou em depressão. Toma remédio controlado. Às vezes se excede. Vê a rua correr mais que seus passos. Tem que parar. Como fez hoje.<br />Não vai pra casa. Sua casa não está mais no lugar de antes. Seus parentes não o conhecem. Ele está transformado. Seu passado é outro. Já foi. Se mandou. Um estrangeiro em sua terra.<br />“Moro por aí”, disse antes de seguir em frente.Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-3552654479977307752009-07-11T15:14:00.003-03:002013-01-07T16:31:41.553-03:00Dogwalker<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
"<a href="http://2.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/SljdSd0apSI/AAAAAAAAAKU/OX6MShgf5h0/s1600-h/dogwalker.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5357275066069067042" src="http://2.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/SljdSd0apSI/AAAAAAAAAKU/OX6MShgf5h0/s200/dogwalker.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 150px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 200px;" /></a> Este é o melhor emprego que tive, até agora na vida". O entusiasmo de André contrastava com o rosto sizudo de Luiz, seu colega cuidador de cães. Entre uma das muitas paradas para os respectivos xixis dos quatro cachorrinhos, dois pra cada um, ele exaltava as qualidades da atividade, durante o passeio matinal pelas ruas do Morumbi.<br />
Babá de cachorro. Uma profissão que cresce. Basta dar uma voltinha pelos bairros, que a gente vê dezenas deles espalhados pelas movimentadas ruas da capital. Qualquer dia deverá ser regulamentada. Não é a toa que já andam reiventando o nome. Dogwalker!<br />
"Procuro dogwalker, para passear com cadela rotweiller adulta ( mansa e adestrada) e dois cães RSD (?) ." Diz um anúncio no Estadão de hoje. Entre vários: "Seu cãezinho está entediado? Não tem tempo de passear com ele? Procure-nos." "Tenho segundo grau, curso de informática. Me ofereço pra ser dogwalker". Nestas alturas do campeonato, não duvide se, brevemente, veremos cãezinhos entendidos em internet, procurando amigos no orkut.<br />
"Ôôôô... não falei meu, o mercado tá inchando", disse André ao ser informado da qualificação dos concorrentes. Segundo ele, todos os dias da semana, com exceção do domingo, passeia com os bichinhos, durante duas horas. De manhã, com dois poodles. À tarde, dois labradores e uma pitbul. "Por incrível que pareça, estes pequeninhos são os mais endiabrados", revela. "E eu adoro cachorro."<br />
Outra vantagem, segundo André, é que ele não precisa nem pegar ônibus pra ir ao emprego. De sua casa, em Paraisópolis, até o Morumbi e seus "clientes", são dois quarteirões. Até o material de trabalho - saquinhos plásticos e papel toalha e serragem, pra quando os animaizinhos estiverem com algum problema intestinal - é responsabilidade dos donos dos animais. O salário é o mínimo.<br />
"Pois é, cara, e com tudo isso à sua disposição, você não recolhe os cocos dos totozinhos. Não adianta negar, que eu vi. Você terá que me acompanhar à dp, pro registro. Sou o agente Luiz Henrique". O flagra foi dado em voz baixa, mas chamou a atenção do pessoal próximo aos dois. Fixada em 2001, a lei municipal 13.131 estipula uma multa de R$ 10 para quem não recolher das ruas as fezes de animal. <br />
Ossos do ofício. De Sampa. E dos Dogwalker. André não cumpriu os preceitos. Luiz, policial militar há mais de 15 anos, fingia exercer a profissão de André. Há exatos três dias. A intenção, identificar marginais conhecidos na área, que assaltam com frequência transeuntes e motoristas.</div>
Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32412528.post-68271710151177000152009-07-07T16:51:00.004-03:002009-07-07T19:34:57.228-03:00Veronika voltou pra casa<div align="justify"><span style="font-size:85%;"><span style="font-size:100%;">(</span></span><span style="font-size:85%;">Ilustração da Revista Piauí, para seu concurso de contos da Flip 2009).</span><a href="http://2.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/SlPLfnTCfQI/AAAAAAAAAKE/jo0qChWnOhI/s1600-h/ilustra%C3%A7%C3%A3o+da+Piau%C3%AD.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355848125858872578" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 229px" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_8kAG0A85ymE/SlPLfnTCfQI/AAAAAAAAAKE/jo0qChWnOhI/s320/ilustra%C3%A7%C3%A3o+da+Piau%C3%AD.jpg" border="0" /></a><br />A chuva torrencial, que ameaçava cair no início da manhã, não foi suficiente pra mudar os planos de Veronika. O dia chegara. Tinha que ser hoje. Justamente o aniversário de Paulo. Nada iria interromper o seu caminho. O trabalho. A academia. O blog, o orkut, o facebook, o hi5, que esperassem.<br />Há semanas que ela pensava esquecer do tempo, pra se entregar de corpo e alma a grande obsessão de sua existência. Hoje não iria se vestir como de costume. Ao invés do clássico terninho, um vestido branco, de decote sensual, que ela havia comprado de véspera para a ocasião especial.<br />Ressaltaria ainda mais, com o vermelho exuberante das unhas e lábios da mesma cor. Os olhos ela daria o efeito especial , tipo caminho das índias, carregando no delineador preto. As sobrancelhas já eram naturalmente delineadas. A tal da maquilagem definitiva. Que lhe amargaram seis horas de salão, com a cabeça esticada, em um certo lugar do passado...Tão presente. Faltaram as argolas imensas, iguais aquelas em que havia perdido na última noite que saíra vestida pra matar.<br />Sem problemas. Afinal, os brinquinhos roxos, que não tirava nem pra dormir, colocados em suas orelhas pelas mão nervosas de Paulo, no último encontro, produziriam um bom efeito. Se não estético, com certeza, muito emocional.<br />O lago que se formara na frente do tradicional edifício Orléans e Bragança, na Giovanni Gronchi, dava pra imaginar o tempo de chuva torrencial que caia por São Paulo, naquela fria sexta-feira de outono. O que fez Veronika entender o motivo de não ter chamado a atenção dos porteiros, ainda que tivesse se coberto com o discreto casacão de couro preto, com cheiro de mofo, achado em seu armário.<br />Achou estranha a reação do motorista de táxi, quando ela entrou no carro. Um misto de apreensão e surpresa. “Maquilagem demais”, imaginou. Abriu a Piauí, a revista maior, em exposição no banco traseiro e começou a folhear. A mensagem foi certeira. Evitou a conversa, até o edifício de Paulo, em Perdizes.<br />A fechadura da porta do ap 66, no sexto andar, parecia ter sido trocada. Parecia, porque a chave ainda era a mesma, vibrou Veronika. O relógio da cozinha marcava 15 minutos pro meio dia. Nas sextas, ele passava em casa, pouco antes das três, pra trocar de carro, em função do rodízio das placas. Aproveitava e mudava de roupa. Conforme o programa da noite. Veronika adiantou o relógio pras 6 e 22. E tirou a pilha. Justamente a hora em que se reuniram, pela última vez.<br />Entre um cigarro e outro , Veronika montava o cenário do grande encontro. Não havia muito a fazer. Trocou apenas alguns objetos do lugar, que a incomodavam. Como um quadro que ela havia dado de presente a Paulo, no seu aniversário de 40 anos. Nem viu o tempo passar.<br />O horário ou o dia que Paulo chegou no seu apartamento, não importa agora, que o desfecho está próximo. Também não mudou em nada a surpresa que Veronika havia preparado. O registro dos ponteiros, o quadro dela jogado ao chão, com seus sapatos pretos fashion engraxados encima e o cinzeiro cheio, confirmou o que Paulo jamais imaginaria para sua vida, depois daquele dia fatídico. Verônika havia voltado pra casa!</div>Sheila Greenhttp://www.blogger.com/profile/13756401007646974399noreply@blogger.com0