quarta-feira, outubro 17, 2007

Um pseudo crime ou... A vida escrachada de Rosália Maria e Otávio Augusto...

Apenas houve: não aguento mais as saudades de você. Hoje eu consigo aquela grana pra gente se mandar...

A voz aflita e desesperada era de Rosália Maria, no celular. Praticamente um ultimato na vida de Otávio Augusto, que não dava, nem descia. Só comia e não se importava com a divisão. No fundo ele sabia que seu objetivo era outro. Depois, havia seu melhor amigo, marido da Rosália Maria, que não só acreditava nas juras de amor, como botava a mão no fogo pela fidelidade de Rosália. O que não quer dizer muita coisa também. Foi assim com a Edilelma. Com a Regiane. Com a Edicreusa...

E desta a forma a vida ia passando... Com as promessas cada vez mais escassas de encontro dos dois e os frequentes telefonemas.

Apenas houve: descobri a senha da conta do pai do Rogério Arthur, no Exelsur Bank. (O pai do Rogério Arthur, tinha sido o primeiro pseudo marido de Rosália Maria, um alemão rico, que prometeu casar com ela, depois de ter recebido em seu país, uma ação de reconhecimento de paternidade). Um apartamento. Um carro. E o sobrenome para o filho. Ficaram combinados assim. Mas a fatura ainda poderia ser esticada... Na cabeça estrambólicamente brilhante de Otávio Augusto, estava feito o carreto.

Apenas houve: tô indo aí na segunda, pra gente resolver o negócio! Dá um jeito de deixar o caminho livre entre nove e três da tarde. Desta vez, quem ligou, foi Otávio Augusto. O amigo-marido estava do lado? Pelo sim, pelo não, não poderia correr riscos. E também, porque a história fica melhor contada desta forma.

Apenas houve: POOOOOOOR QUEEEEEEEEEEEE VOCÊ NÃO VEIO !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! O que tá acontecendo?!!!! Sempre soube que você não me amava. Fiquei sabendo que existe uma Lucinda, que mora no Rio e não larga do teu pé. Quem é ela? Por quê você nunca me falou dela?

- Poxa, meu amor, ela é apenas uma amiga... respondeu Otávio Augusto. Tá bom. Amanhã. Vou pra aí. Bem cedinho, pra gente tirar o atraso. Depois a gente trata dos negócios.

Agora, neste novo início de parágrafo, não tem o "apenas houve", por razões óbvias. Além de poder agilizar a história, que já tá ficando comum e de repente mudar de rumo. E na verdade, não precisa, porque os dois, finalmente estavam na cama. A mesma, que abriga o pai do Rogério Arthur - quando ele vem da europa - o atual marido, as amigas íntimas, os cachorrinhos da casa... Foi tanta trepada, que os dois esqueceram dos negócios. O dia passou. A noite chegou. O uísque terminou. A campaínha tocou. Tamo fudido...

Não, acho até bom, assim eu conto tudo pra ele, assumo que sempre te amei e a gente vai viver a nossa vida aqui neste apartamento, como eu sempre sonhei... disse uma euforezicamente-esfuziante-retumbantemente Rosália Maria.

O que ia ser de verdade, a tragédia familiar-amizade que ameaçou se instalar em breves segundos e que poderia compor o novo cenário desta história, ficou no ia-poderia, já que quem tocou a campaínha foi o vizinho do lado, avisando que as chaves haviam sido esquecidas na porta, pelo lado de fora. "Ah, amanhã a gente se encontra pra falar de negócios. Ou melhor, acho que só na próxima semana, porque nesta eu tô cheio de trabalho", disse Otávio Augusto, pensando na canastra desta noite, com os pais da Heleninha. Na quinta, sim, era o dia das intermináveis reuniões, que acabavam sempre falando da vida do coitado que não estava presente. E claro, o escolhido era sempre boicotado do horário. Na sexta...xi era o dia do pagamento... Queria tanto viajar, passar um final de semana em Fernando de Noronha, com a Heleninha. Desde que casamos, há mais de 10 anos, nunca pudemos fazer uma extravagância destas. Não, isto não é vida para um ser humano honesto! - pensou .

Então é o jeito. Voltamos ao início... Apenas houve: não tô aguentando a saudade. Teu cheiro ainda tá no meu corpo. Quero te ver. Dá um jeito pra ficar livre neste sábado de manhã... Terá que ser rapidinho. Pode ser no Boteco da Praia ? Otávio Augusto se lembrou que na frente do mesmo, tem uma lan-house. Um minuto depois, liga uma vorazmente-hipotética-surpreendentemente Rosália Maria:

Apenas houve: tá marcado. Se você não vier, eu é que vou aí! Escuta um pedacinho da nossa música...

O dia estava mais que lindo, naquela manhã. Chamava à praia. Mas Otávio Augusto tava nervoso. Mesmo depois de dois uísques... Lá vem ela. Shortinho, bundão atrás, tamanco, bluzinha tapando a barriguinha, já bem grandinha, apesar dos 40... chapelão extravagante. "Já vi que você tá nervoso. Vamos ali, um pouquinho, que eu acalmo você", disse com voz sexi, no ouvido de Otávio, antes de sentar. Ali era o toillete feminino, lugar já comum, pra mais uminha, sempre na hora de ir embora. Rosália entrava. Otávio Augusto esperava pra ver a movimentação e entrava no momento certo. Na saída, era o mesmo esquema.

Sentaram, pra relaxar. "Você imagina quanto tem naquele banco?" " Quase 10 milhões de euros, somando todas as aplicações dele." - respondeu Rosália Maria. Sete milhões, já bastava. Transferindo sete mihões pra sua conta, no Banco do Brasil, já era suficiente, pensou Otávio Augusto. "Puxa, a gente não precisa de tanto, quem sabe uns quatro milhões", argumentou Rosália Maria. "É, pode ser." A gente transfere e se manda pra...Paris... Pro Hawai... Pras Ilhas Virgens... Isso, pras Ilhas Virgens. Não tem importância mesmo, que eu não vou fazer absolutamente nada na vida. Mas tem uma coisa, vou deixar uma graninha pra Helenina. Uns 50, uns 40 mil euros, tá legal?... Vamos, me dá a senha...

O caminho do bar até a lan-house pareceu uma eternidade. Na frente do computador, então! "Otávio Augusto, eu tava pensando, se a gente fizer isto, vamos ter que fugir da polícia a vida inteira! Eu te faço uma proposta: tenho um lote em Canoa Quebrada. É bem pertinho da praia. Você sabe que tudo que eu peço pro pai do Rogério Arthur ele me dá. Então, vou pedir pra construir uma casa confortável, com um varandão imenso, como você sempre fala. Em menos de seis meses, ela fica pronta te garanto! Eu até posso abrir mão de deixar o Rogério Arthur ir estudar em Munique, no ano que vem, como o pai sempre quis. Com a pensão que ele me dá e com o aluguel do apartamentinho lá da Barra do Ceará, vai dar pra gente viver bem tranquilo, tá amooooooor?

Uma casa na praia em Canoa Quebrada... Pertinho do mar... Tudo que Otávio Augusto sempre sonhou...Que maravilha! Prometo! Mas e se a casa demorar pra ficar pronta? "Não, eu te garanto, no máximo em um ano, tá certo?"- insistiu Rosália Maria.

Puxa, quase duas horas, tenho que me mandar, senão apanho em casa. Amanhã te ligo.



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