sexta-feira, janeiro 15, 2010

Uma paródia de Drumond em homenagem aos coleguinhas...

E agora José?
O primeiro ano passou. O segundo ano passou. O terceiro ano terminou e quando você viu, seu deadline sumiu. Acabaram com a tua faculdade.
De jornalista, voce virou cozinheiro!
De que adiantou, José, voce batalhar, passar horas da madrugada estudando, de dia no cursinho, gastando metade do seu salário pra enfrentar o vestibular?
Veio a aprovação. Voce chorou como criança. Depois pagou mais do que a metade do seu salário. Matrícula. Primeiro ano. Segundo. Terceiro...
O quarto virou ficção, José. Pauta furada. Matéria censurada. Rainha da Inglaterra. Receita de bolo.
O quarto ano se foi. E o diploma...
O diploma não vale. O emprego não há.
Você está sozinho José. Os jornais te reprovam. Barrigam com a "tua" preferência. Abafam a tua voz. Você não tem panela. Quem mandou estudar? Só voce ficou. E agora?

Quer ir a fonte, a editoria. A Lei de Imprensa. Mas lei de imprensa não há, José. E as mesas dos bares estão todas vazias...

Se você escrevesse. Se voce tivesse espaço. Se voce cavasse. Se voce apurasse. Se voce garimpasse. Se voce copidescasse. Se voce bebesse José!

Mas voce não bebe! Voce não tem dinherio José.

Voce com seus códigos de ética. Com seus manuais de redação. Com sua psicologia de botequim. Com sua responsabilidade de ouvir os dois lados. Que lados, José?

Tens os códigos nas mãos. Mas e o sentimento do mundo? Cadê José?

Cadê a verdade que orientava suas entrevistas? Cadê o sentimento de liberdade? Cadê o "case"?
Cadê a matéria isenta?
E a tua compreensiva companheira, de cabeça feita, que lhe jurava amor?

Se mandou, José... Com seu amigo diretor.

Tudo passou. Tudo ruiu. Tudo mofou. Amarelou. Página virada. Letras apagadas. Virou off.

Só voce ficou. Incrédulo. Plantado. Com seu sentimento impotente de indignação. Com o estômago revirado pela angústia do fim de um sonho.

Que fazer, José? Morrer?
Mas voce não morre. Voce é duro, babaca José.


6 comentários:

Luiz Flávio disse...

GTenial. Senti a referência na pele, já que sou estudante de cozinheiro, digo, jornalismo.

Carlos disse...

Bárbaro, Sheila. Somos os pobres josés de hoje...

Lu Mel disse...

A visão de quem é experiente na cozinha...Estou certa?
Parabéns, voce analisou o drama de uma profissão pelo ângulo certinho...

Viviane disse...

Parabéns pelo texto! Muito bom! Sorte para todos os Josés desse Brasil...

Maria disse...

Muito bom! Adorei o recado...Parabens para todos os Josés.Força!

Eliete disse...

Li que o poema de Drummond foi escrito durante a 2a. Guerra Mundial, em uma época de medo com o presente e de insegurança quanto ao futuro. Mas, no final, o José continuava a marchar, mesmo sem saber para onde. Até quando???

Por este resgate de sentimentos, achei genial a tua paródia!!!