quarta-feira, julho 16, 2008

Solange e a cartomante

Eduardo mal teve tempo de se levantar da cadeira próxima ao mar. Ploft! Caiu de cara nos seios siliconados de Solange, que caminhava pela areia.

- Poxa, desculpe - disse ela, com jeito de preocupada. Você é daqui? Conheço você de algum lugar...

Foi a cartomante de Solange quem cantou o esbarrão. Segundo disse ela ao recém conhecido. Coroa. Claro. Estrangeiro. Nem bonito. Nem feio. Rico. Muito rico. O grande amor da vida dela. Era a previsão.

O namoro de Eduardo e Solange já durava três meses, quando Solange descobriu o engano da cartomante. O muito rico.

- Não. O muito rico tá pra chegar. Ele é italiano. Ou Espanhol. Tem olhos azuis. Ou verdes. Loiro alto - garantiu a vidente, depois de receber o cheque pré-datado, referente aos préstimos mensais. A consulta de Solange com a cartomante era semanal. Há mais de 2 anos.

O longo tempo já era garantia de visitas duas vezes por semana, quando Solange estava muito angustiada. Fazia parte do pacote.

Também tinha vezes em que Solange não conseguia grana para o pagamento. A cartomante abria uma exceção. Fazia parte da amizade capitalista. Tudo pago com a pensão do pai de seu filho. Um empresário italiano. Que vinha quatro vezes ao ano, no país.

Antes de terminar com Eduardo, Solange já tava de olho no turista alemão. Com todas as características dadas pela cartomante. Olhos azuis. Alto. Lindo. E.. claro, tem jeito de rico. Muito rico.

Ela paquerava com o alemão há dois dias. Casualmente, um dia após a previsão da cartomante. Mas tinha um probleminha. Ele estava com a mulher.

O jeito era se aproximar do casal. Naquele dia, o terceiro da paquera, após o fora no Eduardo, Solange se produziu ainda mais, pro encontro com o seu futuro marido.

Renovou a chapinha. Fez depilação com contorno. Um coração formado de pentelhos. Na perereca. Chapelão novo. Canga estilizada. Quase um vestido de festa.

As mesas próximas ao casal, estavam ocupadas, quando ela chegou. Esperou que os dois fossem pro mar. Sentou na mesa deles. Pediu desculpas com a maior carinha de pau de sempre. Se convidou pra ficar na mesa, enquanto... esperava alguma.

- Conheço você... de algum lugar... O alemão, que mal falava sim, em português, riu. A mulher traduziu. Era brasileira. De Curitiba. - Ele não, mas eu conheço você. Só não sei de onde - respondeu a mulher do alemão. Solange ficou intrigada...

Vários uísques depois, Solange já estava familiar. Chamou a mulher do alemão pra retocar a maquiagem no banheiro da barraca. Um tesão incontrolável mexia com sua cabeça.
Agarros e sussurros. Beijos calientes. Cangas no chão. Mãos em ação. Juras de amor...

Quase madruga. Garçon dormindo. Mesas recolhidas. Menos a do casal e Solange. Que não resistia ao sotaque "leite quente" da mulher do alemão...

-Tô apaixonada. Ela é o meu grande amor - dizia Solange, por telefone, à cartomante, logo que chegara em casa, quase de mannã. Como você disse. - É loira. Alta. Tem olhos verdes. Linda! E é do sul. Parece estrangeira... Esqueceu o "muito rica".

A mulher do alemão ficou em Fortaleza, quando o alemão teve que recomeçar a trabalhar. Em Frankfurt.

Era pra mulher do alemão se mandar pra lá, dois meses depois. Desistiu do alemão e da Alemanha, quando conheceu Alice. Amiga da Solange. Mulher de um colega do filho mais velho da Solange.

Solange sofreu. Chorou. Implorou. Contou tudo pros pais da Alice. Ameaçou ligar pro alemão. Mas a ex-mulher do alemão não se comoveu. Ficou com a Alice.

Hoje Solange tava na praia. Fazia um bom tempo que não vinha por aqui. Produzidésima. Procurava um cara ou uma cara, ruivos. Podia ser "meio-loiro". Ou "meio-loira". Olhos castanhos. Podiam ser, "esverdeados". Podia ser "quase alto". Ou alta. Podia ser "meio-calvo". Ou com cabelos pintados. Podia ser rico. Ou um pouco. Segundo as novas previsões de sua cartomante.

Desta vez, seria o verdadeiro amor de sua vida!

2 comentários:

Unknown disse...

Sabemos q existem muitas dssas Solanges pelo mundo, e quem sabe não seria ela, daquelas que pensa que MAIS VALE UM PÁSSARO NA MÃO DO QUE DOIS VOANDO. hehehehe

Gostei do conto, Sheiloca, muito bem contado ...rsrsrs Abraços e parabéns.

Unknown disse...

Dizem que a espernça é a última que morre. Eu diria que nunca morre. hehehehe.....Há muitas Solanges no mundo, e quem sabe o que vale mais é um pássaro (fêmea ou macho) na mão de que dois ou duas voando. Heheheheh Abraços e parabéns pelo conto. Muito bom !!!!