quarta-feira, março 12, 2008

Aconteceu no Lami - Parte III - Bandidos e abelhas se unem para o contra-ataque


Uma? Duas? Que horas serão? Perguntou Saly nervosa. Na verdade, pareciam mais de 10 horas, que as duas estavam alí, naquela situação de pânico. Longe do mundo. O pior é que não adiantava nem gritar. Quem iria ouvir? A distância entre as casas da vizinhança era de quase 5 quilômetros... "Será que chegou a nossa hora? Não sei por quê, mas eu tinha um pressentimento de que a gente iria morrer juntinhas..." , disse Lisa.
Morrer... agora? Com 26 anos? Pensou, baixinho. Agora que me achei... encontrei o caminho da minha felicidade... da minha natureza, pensou Saly, relembrando a descoberta de sua identidade sexual, há pouco menos de um ano, depois de dois casamentos formais e uma bem grandinha lista de namorados. E no auge da beleza... Loira, cabelos compridos, olhos verdes, rosto magro, corpo perfeito, que fazia parar a conversa dos frequentadores de qualquer bar ou restaurante, quando ela entrava...


Saly olhou pra Lisa. Quem diria! Aquela mulher magra e cheia de energia, quatro anos a mais do que ela. Conhecedora do mundo, com vasta vida aventureira. Seu meio de transporte era uma moto, que ela pilotava com perfeição, sem dispensar os seus altíssimos saltos. Com perfil de bailarina espanhola, como sua origem. Especialista em deslizar nas passarelas, apesar de sua pouca estatura. Cabelos lisinhos e negros, como seus grandes olhos, moldados por sobrancelhas arqueadas e fartas, que lhe davam um ar de mistério sensual. Boca carnuda, sempre ressaltada por um baton vermelho uva, do qual ela jamais se separava .
"Nuuuunca, a gente vai sair dessa... e é agora", reagiu Saly, ao mesmo tempo em que tentava se livrar de um incômodo inseto, que teimava em zunir aos seus ouvidos. Insistente. "Porra, que saco! Uaaaaaaaauuuuuu, uma abelha, Lisa. Olha o ferrão!... Ih, outra... Ih... Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiii !!!Caramba, de onde elas estão vindo? De lá?...


Quando olharam pra cima, não acreditaram no que estavam vendo sob suas cabeças! Uma violenta descarga de adrenalina invadiu como uma bomba o cérebro, o corpo, as pernas das duas! Um imenso quadro negro pairava sinistro por toda a imensidão da sala! Na luz do lampião e sob os neurônios do pânico, a visão era de um horripilante filme hitcochiano. Demorou um certo tempo até elas caírem na real. O teto estava impregnado de abelhas, que para seu olhos apavorados pareciam mais com monstros dinossáuricos!


E agora? - gritou Lisa, pra depois cair em prantos, ao mesmo tempo em que tentava tirar os ferrões das costas de Saly, que urrava a cada tentativa. "Não tem jeito, se correr o bicho pega...Vamos embora! Mas, presta atenção, tu só sai daqui quando eu ligar o carro e acender os faróis!" - sussurrou Saly, pra ninguém ouvir o plano. Lisa parecia petrificada.


Era só pegar a chave do carro e se mandar! Mas... cadê a chave ?!!? "A-a-a-cho que táá láa, na ignição...?! " - repondeu Saly, com a voz tremida.


Si... Quem sabe... Onde... Como... O momento não permitia conjecturas. Nem palavras difíceis. Nem diálogo, como alerta a minha crítica literária preferida. A ação já estava traçada e elas tinham que contar, novamente com a sorte. Então começaram a retirar os móveis à frente da porta. Bem devagarinho, pra não alertar a quem estivesse fora da casa.


Primeiro o armário, o sofá, a mesa...Que as duas tiraram com uma perfeita rapidez e sincronismo, de fazer inveja à qualquer preparo olímpico! Abrir a porta, agora, era uma questão de segundos... Rápido ou devagar? As duas formas! Saly já via a cena em sua mente: abriria a porta rápidão e ficaria agachada, ao lado, espiando a reação externa. Se continuasse o silêncio, sairia correndo, abriria a porta do carro e... ihhhhh. Na verdade, a cena que Saly via era a de que, nesse momento, já teria sido fuzilada por um bando de marginais, postados por trás das árvores. Ou, o pior (?) sendo cercada por todo o bando armado, que as deixariam à mercê de sevícias e maus tratos...


Saly sabia que não tinha mais jeito. A sorte estava selada. Se ficar o bicho come!


Saly deu um beijo e um forte e esperançoso abraço em Lisa! "Não esquece, espere eu ligar". Abriu a porta da casa. Nem tão rápido, nem tão devagar. Nem se abaixou. Espiou. Mas também não esperou. Saiu correndo e instintivamente pôs as mãos na cabeça, com se estivesse se protegendo de tiros.


Que longos e sinistros, aqueles quase 30 metros que a separavam do carro! Ainda pode perceber que a noite estava clara, como ela ainda não tinha visto, desde que estava lá. Consequência do intenso brilho da lua e das estrelas, que pareciam muito próximas dela. "Pertinho do céu", observou. Isto, por questões de segundos, apenas, já que que seu pensamento voltou a se fixar nas chaves do carro: tomara que esteja na ignição! Tem que estar na ignição! Claro que estão lá!


Nesse meio tempo, Saly voltou a sentir um desespero de morte: e se a porta estiver trancada? Será que que eu baixei o pino? Não, acho que não... Porque iria fazer isto?...


Cada passo dado a frente representava milhões em prol de vidas. Como ela imaginava já ter atingido mais da metade do caminho, a sensação que tinha era de crescimento. Como se um balão estivesse inflando e já já, ela iria sair voando. Flutuando, seria melhor. Leve e livre, ao sabor do vento, sem lenço e documento, sem qualquer preocupação com ladrões e perseguições...


Uma. Duas. Não. Não estava trancada. A porta do carro abriu só na terceira tentativa. Bingo! A primeira parte já estava vencida! "Vamo. Vamo. Vamo carrinho. Não me deixe na mão agora... Não vai fazer como naquele dia em que chegamos. Pega! Pega...


Uaaaaaaaaaaauuuuu !!!! Tô com sorte. Eu sabia! Eu sabia! Eu te amo!


Saly acendeu os faróis, o que iluminou todo o quintal, no fundo da casa, já que o carro estava de frente pro mesmo. Rapidamente engatou a ré e acelerou até a frente da mesma, já com a porta do passageiro aberta. Lisa já estava fora e correu pra dentro do carro. A distância até o portão de entrada era cerca de 50 metros, trafegando pelo caminhozinho de areia. Saly tentou encurtar o dito, passando por cima da grama. Teve que parar, bruscamente, diante de uma árvore, mas continuou acelerando o carro em ponto morto, pra evitar qualquer surpresa desagradável. "Já pensou o carro morrer agora?" - brincou Saly, ainda tensa.


Pareceu uma eternidade, o tempo percorrido em poucos segundos, até o portão de madeira do sítio. O mais difícil foi mesmo abrir, pois estava preso com uma forte proteção de arame farpado, retirado com dificuldade por Lisa, que voltou pulando de alegria para entrar, novamente, no carro. Desta vez, o caminho em direção à civilização estava livre!


A não ser que...


( Quem ainda tiver saco e curiosidade pra acompanhar a saga de Saly e Lisa, mais ou menos nos anos 80, a história continua à qualquer dia, neste mesmo bat local).













Um comentário:

Unknown disse...

por favor me mnde tudo da MINHA PRAIA ACONTECEU NO LAMI
meu email alexsandro.lima.rocha@gmail.com
muito obrigado..gostaria de saber mais sobre voce
meu orkut:alex lima